Infecção urinária na criança pode ser sinal de malformação

Postado em 24 de outubro de 2019 por .

Você sabia que crianças de todas as idades podem apresentar infecção urinária

Embora seja mais comum em mulheres adultas, a infecção pode ocorrer em qualquer idade, até mesmo em bebês. Quando acontece na infância merece maior atenção e cuidado, porque pode ser o primeiro sinal de uma malformação congênita da via urinária. E também porque pode provocar sequelas, prejudicando o adequado funcionamento renal.    

Dra. Marcelle Olivier (CRM 147.380), Nefrologista Pediátrica da Pueritia

A infecção urinária ocorre quando micro-organismos atingem a via urinária e provocam lesões em suas estruturas. Os agentes mais comuns são as enterobactérias, bactérias normalmente presentes no nosso intestino, que alcançam a via urinária pela uretra, quando os mecanismos naturais de proteção do nosso organismo são comprometidos.

Os sintomas da infecção urinária variam de acordo com a faixa etária da criança. Bebês e crianças pequenas (menores de 2 anos) tendem a apresentar sintomas pouco específicos, ou seja, semelhantes aos sintomas de infecção de outras localizações, como febre, choro, vômitos e irritabilidade. Já as crianças mais velhas e adolescentes apresentam queixas mais localizadas, como dor e sensação de ardência/queimação para urinar, dor abdominal e aumento da frequência urinária, com ou sem febre. Em todas as idades também podemos observar a mudança do aspecto da urina, que adquire uma coloração mais escura, com odor fétido e até sangramento.

Por questões anatômicas, as meninas são mais acometidas que os meninos. A uretra das meninas é mais curta e mais próxima do ânus, facilitando o trajeto das bactérias para o trato urinário. Curiosamente, nos primeiros 3 meses de vida os meninos são mais vulneráveis à infecção de urina. Isso ocorre pela presença da fimose, pele que recobre a glande e favorece a aderência de bactérias.

Malformação nem sempre é identificada na gestação      

Especialmente quando se manifesta em crianças menores de 2 anos, a infecção urinária mostra correlação com a presença de malformações congênitas. Durante a gestação, o trato urinário – formado pelos rins, ureteres, bexiga e uretra – pode se desenvolver com alguma anormalidade, nem sempre identificada durante o pré-natal. Essas malformações atrapalham o adequado esvaziamento da via urinária e provocam acúmulo de urina, facilitando a proliferação de bactérias, levando à infecção urinária.   

Outro aspecto importante da infecção de urina nas crianças é o risco da formação de cicatrizes nos rins, principalmente nos casos de infecções repetidas acompanhadas de febre. Essas cicatrizes comprometem a função renal, podendo levar à hipertensão arterial e insuficiência renal de grau variável, em médio a longo prazo.    

Por isso, tão importante quanto saber reconhecer os sintomas da infecção urinária na infância, é saber que além do tratamento é preciso um acompanhamento e investigação adequados, para descartar uma malformação associada, evitar sua recorrência e monitorar suas possíveis sequelas.

Diagnóstico correto garante rins bons por toda a vida

O diagnóstico da infecção urinária é realizado a partir da associação dos sintomas sugestivos com o resultado dos exames de urina (urina 1 e urocultura). Em alguns casos, também pode ser necessária a realização de ultrassonografia dos rins e exames de sangue.

É fundamental que a coleta de urina seja feita de forma adequada. Nas crianças fraldadas, a coleta deve ser sempre por sonda; nas crianças que já adquiriram o controle da bexiga, orienta-se a coleta do jato urinário diretamente no copo coletor (jato médio). O uso do saco coletor, embora ainda muito usado nas unidades de pronto-atendimento, está relacionado a altos índices de contaminação e não tem valor para o diagnóstico de infecção urinária, não devendo, portanto, ser utilizado.  

Uma vez estabelecido o diagnóstico, o tratamento será iniciado com o uso de antibióticos, por via oral, sempre que possível. No entanto, nos casos de maior gravidade, podem ser necessários a internação e o uso de antibióticos endovenosos.

Se seu filho ou filha apresentou um ou mais episódios de infecção urinária, procure a avaliação de um especialista. Cada caso deve ser avaliado pelo nefrologista pediatra, que definirá sobre a necessidade de exames mais específicos e detalhados para descartar a presença de malformações, bem como fará a monitorização da função renal e da pressão arterial. Caso seja identificada alguma deformidade do trato urinário, será indicado o tratamento com o uso de medicações contínuas e/ou cirurgia, com o objetivo de evitar que outras infecções ocorram, garantindo assim o adequado funcionamento dos rins durante toda vida.

Fique atento às medidas de prevenção:

  •  Ofereça água e líquidos com frequência, ao longo do dia;
  • Troque a fralda quando estiver cheia de xixi e, claro, todas as vezes que o pequeno fizer coco; 
  • Ao trocar a fralda dos bebês, com a ajuda de um algodão molhado, limpe a região genital sempre em direção ao ânus (de frente para trás), nunca na direção contrária, para evitar a contaminação;
  • Nas meninas maiores, monitore a higiene genital, garantindo sempre o mesmo processo de limpeza “de frente para trás”;
  • Fique atento a manobras de contenção urinária – é comum que crianças maiores queiram segurar o xixi enquanto brincam. Oriente e monitore parar a brincadeira para ir ao ban;
  • Promova uma alimentação rica em fibras. No caso dos bebês, estimule o aleitamento materno;
  • Fique atento ao padrão intestinal do seu filho – a constipação intestinal aumenta o risco de infecção urinária. Crianças devem evacuar diariamente, sem grande esforço ou dificuldade. Evacuações não diárias, fezes de grosso calibre, em “’bolinhas” ou endurecidas é sinal de constipação. Converse com seu pediatra para tratamento adequado;  
  • Febre por mais de 24 horas, sem outro sintoma aparente, pode ser infecção urinária – investigue com seu pediatra.