Sem ar: o grave acidente da asfixia

Postado em 17 de agosto de 2017 por .

Dra. Daniella Verdade, Otorrinolaringologista Geral e Pediátrica da Clínica Pediátrica Pueritia

Sabemos da importância de manter os bebês e crianças longe de brinquedos e alimentos muito pequenos – afinal, basta uma distração para o item parar na boca deles, o que pode resultar em uma aspiração de corpo estranho (ACE). Ela ocorre quando o objeto ou substância ingerido não vai para o trajeto habitual do trato digestivo (esôfago, estômago e intestino) mas, sim, para o trato respiratório (laringe, traqueia, brônquios e pulmões). Isso pode causar falta de ar com possível insuficiência respiratória, a asfixia.

O diagnóstico precoce é essencial, pois o retardo no seu reconhecimento e tratamento pode evitar sequela definitiva ou dano fatal. Acidente grave, a aspiração pode ocorrer em qualquer fase da vida, mas é muito mais frequente em crianças, que respondem por cerca de 80% dos casos, e maior em meninos do que em meninas.

O pico de incidência acontece entre um a três anos. Nessa faixa, as crianças exploram o mundo por meio da via oral, pois possuem coordenação motora para colocar um pequeno objeto na boca, mas não possuem dentes molares, mastigando os alimentos de forma incompleta – o que predispõe à ACE. Outros fatores que também propiciam o cenário é o acesso a alimentos impróprios, realização de outras atividades ao mesmo tempo em que se alimenta e quando irmãos mais velhos oferecem alimentos ou objetos aos pequenos.

As sementes, principalmente amendoim, milho e feijão, são os principais corpos estranhos aspirados por crianças em nosso meio, correspondendo a 40% das ocorrências. No entanto, fragmentos de brinquedos, brincos e até tampas de canetas, entre outros, são relatados. Já a aspiração de bexigas e balões vazios é grave e muitas vezes fatal.

Alimentos com alto teor de óleo, como o amendoim, quando aspirados, causam grave inflamação da mucosa e acúmulo de tecido de granulação. Tais alterações também são percebidas após aspiração de objetos pontiagudos, enferrujados, de ferro e cápsulas de medicamentos.

 

Manobra não deve ser feita se paciente fala ou tosse

 

A fim de evitar a aspiração de alimentos, é preciso que pais e cuidadores forneçam comidas de tamanho e textura apropriados, adequadas para a idade de cada um e com base na capacidade do pequeno de mastigar e engolir. É importante também afastar as crianças de brinquedos e objetos pequenos, inapropriados para sua idade, essencial na prevenção da asfixia.

Se a criança apresentar obstrução completa, com incapacidade de falar ou tossir, a asfixia poderá rapidamente ser letal. Nesses casos, deve ser tentada a manobra de Heimlich, demonstrada nas figuras.

No entanto, essas intervenções devem ser evitadas em pacientes capazes de falar ou tossir, uma vez que uma obstrução parcial pode se tornar completa. Pela mesma razão, explorar a boca dele “às cegas” deve ser evitado. Se as manobras de deslocamento não surtirem efeito, é preciso procurar o pronto-socorro imediatamente.

 

A importância da agilidade no diagnóstico

Algumas informações são essenciais para o diagnóstico: a idade do paciente, o tipo de material aspirado, o tempo decorrido desde o acidente e a localização do objeto. Nas crianças, a asfixia pode apresentar um quadro de engasgo seguido de acesso de tosse e lábios roxeados.

No entanto, nem sempre as informações são relatadas espontaneamente pelos pais, principalmente quando o engasto parece ser limitado e seguido por um período sem sintomas. Os pais podem interpretar erroneamente como um sinal de resolução, atrasando o diagnóstico.

A ACE também pode ser suspeitada no primeiro quadro súbito de chiado no peito, na tosse persistente e na alteração da ausculta de tórax realizada pelo médico em pacientes com estridor (ruído agudo ao respirar), ou dificuldade respiratória refratária ao tratamento.

 

Raios X e broncoscopia

A maioria dos corpos estranhos aspirados não aparece no exame de raios X – aproximadamente 20% das radiografias em pacientes com ACE confirmada são normais -, mas o exame pode apresentar outras alterações sugestivas de comprometimento do trato respiratório.

Outro exame obrigatório é o de broncoscopia, para diagnóstico e tratamento. Quase todos os corpos aspirados podem ser extraídos por ele: as taxas de sucesso são acima de 98%.

Quando o diagnóstico é tardio, o aparecimento ou piora dos sintomas pode durar dias, meses ou anos, dependendo do grau de obstrução da via aérea e da natureza do material aspirado (orgânico ou inorgânico). Porém, quando é rápido, facilmente removido e o paciente não tem mais sintomas, o tratamento após a extração varia entre observação hospitalar por 24 a 48 horas a alta com orientação.

 

A Clínica Pediátrica Pueritia está de portas abertas para tirar todas as suas dúvidas sobre asfixia e outros riscos que circulam os pequenos! Marque uma consulta.

 

Bibliografia

  • Gonçalves MEP, Cardoso SR, Rodrigues AJ. Corpo estranho em via aérea.
  • Pulmão RJ 2011;20(2):54-58.