A doença celíaca e o glúten

Postado em 3 de outubro de 2019 por .

doença celíaca
Dra. Daniela Amaral (CRM 148.083), Gastropediatria e Pediatria Geral da Pueritia

Atualmente, tem se comentado muito a respeito do glúten – mas, afinal, você sabe o que ele é? Glúten é uma proteína presente no trigo, aveia, centeio, cevada e malte, cereais muito utilizados na composição de alimentos, bebidas, medicamentos…

Mas o que ele pode causar ao nosso organismo?

Algumas pessoas, geneticamente predispostas, são permanentemente intolerantes ao glúten. Trata-se dos portadores de doença celíaca. Ou seja, esses pacientes, quando consomem o glúten, apresentam um processo inflamatório no intestino delgado, danificando suas vilosidades e prejudicando a absorção dos alimentos.

Mucosa do intestino delgado com as vilosidades atrofiadas:

Mucosa do intestino delgado com as vilosidades normais:

Quais os sintomas mais comuns?

A doença celíaca geralmente se manifesta na infância, entre o primeiro e terceiro ano de vida, podendo, entretanto, surgir em qualquer idade, inclusive na adulta.

Pode se manifestar de algumas maneiras.

  • A clássica

Frequente na faixa pediátrica já que, com a introdução da alimentação complementar, o paciente começa a ter diarreia crônica, anemia ferropriva, emagrecimento e falta de apetite, distensão abdominal (barriga inchada), vômitos e dor abdominal, podendo evoluir com osteoporose, esterilidade, abortos de repetição e morte na falta de diagnóstico e tratamento.

  • Não clássica
doença celíaca

Apresenta manifestações mais inespecíficas e as alterações gastrintestinais não chamam tanto a atenção. Pode ser, por exemplo, anemia resistente à ferroterapia, irritabilidade, fadiga, baixo ganho de peso e estatura, constipação intestinal crônica, manchas e alteração do esmalte dental, esterilidade e osteoporose antes da menopausa.

  • Assintomática

Paciente que não tem sintoma algum, mas que, por alguma razão, como ter um familiar de primeiro grau com a doença, é investigado e diagnosticado. Nesses casos, mesmo sem sintomas, se não tratada a doença, podem surgir as mesmas complicações dos pacientes sintomáticos, como o câncer do intestino, anemia, osteoporose, abortos de repetição e esterilidade.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é realizado através da biópsia do intestino delgado, que pode ser coletada por endoscopia digestiva alta.

Temos ainda alguns outros exames que nos auxiliam na triagem do diagnóstico, como teste de absorção da D.XILOSE, dosagem de gordura, proteína nas fezes, assim como dosagem de autoanticorpos (antigliadina, antiendomisio e antitransglutaminase), além dos marcadores genéticos HLA DQ2 e DQ8.

Atenção: não existem motivos que justifiquem iniciar dieta isenta de glúten sem realizar a biópsia do intestino delgado.

Só existe um único tratamento para a doença celíaca: dieta TOTALMENTE isenta de glúten por toda a vida. Não se deve comer “só um pouquinho” desses alimentos, pois podem ocorrer consequências danosas para o paciente. Se não aparecerem sintomas depois que o paciente ingerir glúten, isto não significa que o alimento não lhe fará mal.

Devem-se substituir os ingredientes que contenham glúten (como a farinha de trigo) por outras  opções, como o uso de farinha de arroz, amido de milho, farinha de milho, fubá, farinha de mandioca, polvilho e fécula de batata.