Arritmia cardíaca: o estímulo elétrico anormal do coração

Postado em 14 de janeiro de 2020 por .

Dra. Ingrid Tremper, cardiologista pediátrica da Pueritia

O termo “arritmia cardíaca” preocupa; afinal, não queremos que nossos filhos cheguem perto de ter uma doença do coração. Mas como saber se é isso que eles têm?

Inicialmente, as manifestações clínicas mais frequentes são os desmaios (síncopes), ou sensação iminente de desmaio sem de fato ocorrer (pré-síncope), tonturas, falta de ar súbita e palpitações. É hora de procurar o pediatra e verificar se ele aconselha o encaminhamento ao cardiologista pediátrico.

Fonte: O Sistema de Condução do Coração http://www.auladeanatomia.com/cardiovascular/coracao.htm

Mas, antes de definir o que seria uma arritmia cardíaca, é preciso explicar como são gerados os batimentos cardíacos. Diferente de outros músculos do nosso corpo, como por exemplo, o bíceps ou os músculos do abdômen, o coração possui uma rede elétrica própria, o que faz com que a sua contração seja independente dos comandos do nosso cérebro.

O nó sinusal é uma pequena estrutura localizada no átrio direito, responsável por gerar o estímulo elétrico que iniciará os batimentos cardíacos. O ritmo cardíaco normal é conhecido como ritmo sinusal, uma referência à origem desses batimentos.

O termo arritmia se refere a qualquer condição ou afeção onde há formação ou condução anormal do estímulo elétrico pelas estruturas cardíacas, podendo ocorrer no coração estruturalmente normal ou na presença de cardiopatia congênita ou adquirida.

Entendendo as bradicardias, ou a frequência abaixo do normal

De modo geral, as arritmias são classificadas quanto à frequência cardíaca (FC), em síndromes bradicárdicas ou taquicárdicas, e quanto à origem do distúrbio do ritmo.

Considera-se bradicardia quando a FC se encontra abaixo do mínimo normal para a faixa etária, e taquicardia quando está acima do máximo normal para a faixa etária.

Dentre as síndromes bradicárdicas, a mais frequente é a sinusal, em que os estímulos elétricos são gerados no nó sinusal, porém com uma frequência abaixo do mínimo esperado. Ela raramente é sintomática e na maioria das vezes não requer nenhum tratamento específico que não a correção dos fatores desencadeantes a, tais como, hipotireoidismo, hipoglicemia, intoxicações medicamentosas…. Uma curiosidade são os atletas de alto desempenho. Como seu corpo está acostumado com exercícios físicos intensos, eles tendem a apresentar bradicardia sinusal quando em repouso.

As outras síndromes bradicárdicas são os bloqueios atrioventriculares (BAV), em que há um atraso na condução ou interrupção da passagem do estímulo elétrico do átrio para os ventrículos. O distúrbio pode estar localizado no nó atrioventricular ou abaixo dele, no sistema His-Purkinje. Além disso, os bloqueios atrioventriculares podem ser classificados em três graus:

  • 1º grau: o intervalo na condução atrioventricular é maior do que o esperado para a idade. São casos com bom prognóstico e, na grande maioria das vezes, não requer tratamento;
  • 2º grau: o impulso atrial é bloqueado de forma intermitente para os ventrículos; em um de seus tipos, a interrupção do estímulo elétrico dos átrios para os ventrículos ocorre de forma súbita. É o de maior gravidade, geralmente associado a cardiopatias congênitas ou no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Em grau avançado, o tratamento é imprescindível, ainda mais pelo o risco de progredir para o BAV total com necessidade de marca-passo definitivo;
  • 3º grau ou bloqueio atrioventricular total (BAVT): ausência de condução do impulso atrial para os ventrículos que apresentam um ritmo próprio. Com isso teremos duas frequências cardíacas, uma atrial mais alta e outra ventricular mais baixa. Sua etiologia mais comum é o BAVT congênito decorrente de lúpus materno na gestação ou outras doenças autoimunes, e também a presença de cardiopatias complexas. A sua forma adquirida é mais comum nas intoxicações medicamentosas ou pós-operatório de cirurgias cardíacas. A maioria dos casos requer implante de marca-passo ainda na infância quando a FC é menor que 40bpm (batimentos por minuto).

Tratarei das taquicardias (quando a frequência cardíaca está acima do considerado normal) em nosso próximo texto, devido à extensão do assunto. De qualquer forma, adianto o conselho final: acompanhamento pediátrico de rotina permite identificarmos também doenças sem sintomas, inclusive as cardiológicas, como a arritmia. Mantenha o acompanhamento médico de seu filho em dia para ficar tranquilo!