Comer em pedaços e por conta própria: BLW defende a autonomia do bebê com o alimento

Postado em 6 de fevereiro de 2019 por .

Em 2017 o método BLW (Baby Led Weaning) ganhou força e se tornou dúvida de muitos pais e responsáveis que, até hoje, levam esse assunto aos consultórios pediátricos!

Desde que se difundiu no Brasil, as regras e visões dessa forma de introdução de Alimentação Complementar (AC), que dispensa colheres e papinhas, são foco de discussões e dúvidas. Assim, separei aqui dez perguntas frequentes sobre o tema para deixar os pais mais tranquilos e confiantes! Confira:

pediatra
Dra. Márcia Fonseca, pediatra geral da Clínica Pediátrica Pueritia

1. O que é o método BLW?

A sigla BLW vem do inglês Baby Led Weaning; é um método de introdução alimentar de sólidos e consiste na associação da autonomia do bebê para escolher o que, quando e com que velocidade comer, e oferece a apresentação de alimentos aos pedaços. Portanto, BLW é uma filosofia de vida em que os pais e cuidadores deixam por conta da autorregularão do bebê a introdução alimentar, e não apenas uma forma diferente de oferecer o alimento.

2. Com que idade esse método pode ser aplicado?

Não tem como estabelecer uma data fixa no calendário, cada caso é único, mas normalmente é aplicado após os seis meses de vida do pequeno – já que é quando a maturidade do sistema digestivo ocorre. É também nessa fase que os sinais de prontidão começam a ser apresentados pelo bebê (desenvolvimento psicomotor adequado), entre eles: sentar sem apoio ou com o mínimo de apoio; começar o movimento de levar brinquedos e objetos à boca; e demonstrar interesse por alimentos.

3. O que é melhor: BLW ou dar papinha na boca do bebê?

Não existe melhor ou pior. Depende muito da família, se os pais estão ansiosos por essa fase e se preocupam demasiadamente com a quantidade de comida ingerida por refeição, com o tempo da refeição ou com a sujeira, o método BLW pode ser um problema. Mas os dois métodos têm seus prós e contras, é preciso avaliar junto com os pais qual o método melhor para todos.

4. Como a mãe pode se beneficiar desses dois métodos juntos? É possível equilibrá-los no dia a dia, e de que maneira?

Somar os métodos é fazer uma introdução participativa, que reduz a ansiedade ao aumentar a quantidade ingerida, e usa a apresentação aos pedaços para estimular a mastigação e desenvolvimento motor pelo fato de o bebê manusear os alimentos.

Pode-se oferecer parte da comida amassada com o garfo – lembrando que não se oferece mais sopa, caldo ou comida batida no liquidificador! – e parte em pedaços, deixando o pequeno à vontade para manuseá-los e comê-los, se assim desejar. Outra opção é, durante a permanência com cuidador ou na creche/escola, manter a introdução alimentar tradicional e, quando estiver com os pais, oferecer a alimentação aos pedaços ou fazer o BLW completo – é preciso adequar a adoção ao método às rotinas e agendas dos pais, daí a vantagem de fazê-la quando possível.

5. Quais as vantagens e desvantagens do BLW e do método tradicional de papinha?

Vantagens do BLW:

  • Autonomia do bebê no controle da fome e da saciedade;
  • O bebê conhece todo o alimento, não só o seu sabor, mas também sua textura, forma e cor;
  • A criança aprende na ordem correta: morder, mastigar e engolir, além de ganhos motores ao manusear o alimento;
  • Esses três itens em conjunto tornam o processo de comer mais prazeroso.

Desvantagens do BLW:

A refeição é demorada, faz muita sujeira, exige empenho, paciência e desprendimento dos pais durante o processo. Ainda, desperta inúmeros comentários de familiares acostumados com a “tradicional papinha” e não foi validada no Brasil como principal método de introdução alimentar.

Vantagens da alimentação tradicional:

  • O adulto tem o controle e escolhe os alimentos que vai dar;
  • Mais comum, portanto, deixa os pais e familiares mais calmos;
  • É mais rápida e mais “limpa”.

Desvantagens da alimentação tradicional:

Depende inteiramente do adulto e a criança recebe os alimentos de forma passiva; não dá para saber se ela estava pronta para receber aquele alimento à boca, portanto, está mais sujeita a engasgos. Além disso, o método pode oferecer mais calorias do que o necessário.

6. Como colocar em prática o método BLW?

BLW

Primeiramente, o bebê tem que apresentar os sinais de prontidão; depois, é preciso colocar o pequeno para participar da refeição junto com os pais e, por fim, iniciar a forma de preparo e oferecer a comida.

Os alimentos devem ser cozidos o bastante para serem amassados pelas gengivas, mas não tanto para serem esmagados nas mãos. No início, pedaços grandes e alimentos com casca (quando ainda não tiverem dentes) podem ser oferecidos para facilitar a pega.

Como faz muita sujeira, o ideal é colocar o mínimo de roupa – pode até tentar usar o babador, mas normalmente vai sobrar comida por todos os lugares (cabelo, nariz e braços).

E o mais importante: observar, respeitar os ritmos dos bebês e procurar um profissional para acompanhar a introdução alimentar, seja por BLW ou não. Tem muita informação equivocada por aí, rodando nas redes sociais, que podem colocar seu filho em risco.

7. E se a criança não comer nada e só brincar com a comida? O que fazer? É normal?

Sim, normal! Até um ano de idade, isso realmente pode acontecer e está tudo bem – claro que desde que bem acompanhada. Por isso é tão importante conhecer de fato o método; a criança apenas “brincar” com a comida, comer pouco ou apenas cheirá-la e a amassar não significa falha. Esse sentimento de frustração e ansiedade dos pais pode atrapalhar o processo, portanto, sem expectativas!

8. É responsabilidade dos pais ou da criança escolher o que ela quer comer?

É responsabilidade dos pais oferecer alimentos variados; após a introdução alimentar, sempre selecionar um alimento rico em ferro, mas escolher o que comer e a quantidade serão decisões da criança. Lembre-se de que recusar certo alimento não quer dizer que ela não goste dele, é preciso oferecer por volta de oito vezes em ocasiões distintas para saber do que o pequeno realmente não gosta.

9. Não é perigoso engasgar colocando em prática esse método?

Esse é o maior medo dos pais, mas os próprios defensores do método BLW afirmam que essa fase em que é iniciada a introdução alimentar é preventiva de engasgo, já que eles têm o reflexo de gag anteriorizado (movimento bem parecido com a ânsia de vômito). Então, é preciso avaliar, pois, pode ser um gaging, e não um engasgo. Há uma forma correta de oferecer o alimento em cada fase, o que também contribui para a redução do risco de engasgar.

O que oferece risco de engasgo é deixar a criança sozinha. Infelizmente, é comum alguns pais acharem que alimento é distração, porém, não pode deixar o bebê sem supervisão. De novo: é importante o acompanhamento de um pediatra ou nutricionista atualizado com o método, pois o tamanho dos alimentos em cada etapa muda, e a forma de apresentação também.

10. A criança se alimenta direito dessa maneira?

Essa é a questão crucial a que a Sociedade Brasileira de Pediatria e o Ministério da Saúde se apegam para não utilizarem o método, porque essa resposta ainda não existe. Mas os defensores do método dizem que o pequeno é alimentado corretamente, já que, até um ano de vida, o alimento principal é o leite, e é por volta de 10 a 11 meses que o bebê começa a comer realmente.