Comida não é moeda de troca, mesmo que seu filho se recuse a comer

Postado em 31 de julho de 2019 por .

É preciso lembrar que comida não é moeda de troca! Uma questão recorrente no consultório é a da criança que se recusa a comer e os pais frequentemente nos perguntam se podem negociar ou oferecer recompensas. Muitos pais, sem perceber, criam um relacionamento ruim entre a criança e a alimentação.

Dra. Renata Magalhães, Nutricionista
da Pueritia (CRN 3-43885)

Seu pequeno chegou aos 2 anos, 2 anos e meio e ganhou autonomia para se alimentar. É exatamente nessa fase que se estabelece a rotina alimentar. Ainda que ele continue sendo amamentado, os alimentos sólidos já foram introduzidos há algum tempo e agora ele começa a conhecê-los melhor, identificá-los, levá-los à boca sem precisar de ajuda.

Dra. Beatriz Zilli, Psicologia Infantil
(CRP 06/139056)

Agora, seus horários se parecem mais com os do restante da família e já é possível compartilhar a mesa na hora do café da manhã, do almoço e do jantar.

Essa autonomia é criada para o resto da vida e é muito comum que até uns 5 anos os pequenos tendem a se recusar a experimentar coisas novas, mas não se desespere: isso é passageiro.

Mas então ele começa a recusar tudo, especialmente verduras e legumes, e quer apenas o macarrão, o arroz ou os lanchinhos industrializados.

Qual a tendência? O que você faria? Nós adiantamos:

  • Coma toda a comida e ganhe a bolacha recheada;
  • Coma a verdura e te dou mais macarrão;
  • Se sobrar algo no prato, não vai ter sobremesa!

Não é assim? Pois bem, o problema é que comida não é moeda de troca!

Trauma de gerações passadas

A verdade é que muitos dos pais ou avós de hoje lidam mal com a alimentação – comendo mal e por compulsão – devido a um costume das gerações de seus pais, de utilizar a comida para controlar, recompensando ou punindo. Era a velha história de que só poderá comer a sobremesa se limpar o prato, ou se comer todos os legumes.

Isso criou um trauma psicológico relacionado à alimentação em muitas pessoas, e é um comportamento não mais aceito.

Algumas coisas realmente não funcionam, e nós não recomendamos:

  • A criança não vai aprender a gostar do que lhe for forçado, exatamente porque lhe é forçado; ela consome porque é obrigada;
  • Usar distrações também não é o ideal; ela aceita uma, duas vezes porque está entretida com algo, mas, quando levar a atenção para o alimento em si, vai novamente recusá-lo;
  • Restringir o que é gostoso, o que elas querem comer é outra atitude que não ajuda muito. Quando tiverem a liberdade de comer aquele chocolate, a bolacha recheada ou o salgadinho, tenderão a consumir demais, porque sentirão, ainda que inconscientemente, que aquele é o momento de aproveitar, já que não se sabe quando haverá outro.

Por outro lado, entenda que nossos hábitos e comportamentos alimentares de criança vão influenciar o modo como comemos quando adultos, sem qualquer dúvida. Então, essa é a hora de buscar o equilíbrio, sempre mostrando o que faz bem.

A comida é minha amiga!

Nessa fase, a presença e participação dos pais e cuidadores é essencial, para incentivar, mostrar diferenças de cores e texturas, apresentar os alimentos às crianças. Ao comer, o adulto mostra que aquilo é aceitável, é gostoso e pode ser consumido por ela também. Quando toda a família come um item, acaba incentivando o pequeno a copiá-la.

Uma alternativa muito usada hoje em dia é envolver a criança no preparo: ao desmistificar o que vai na panela, ela se encanta, pode experimentar com os adultos ingredientes separadamente, e depois, certamente, vão querer comer aquilo que ajudou a cozinhar!

comida não é moeda de troca

Ainda, a refeição não deve ser um tipo de prêmio, chantagem ou troca. Pense que a criança tem que ser incentivada positivamente, reforçada com carinho, com atitude, e não com ameaça, bens materiais ou… comida!

E acabe com sua neura: ela não comeu e vai morrer de fome! Não vai. E talvez não sinta fome mesmo, a fome venha apenas na próxima refeição de fato, e isso não é ruim. É o organismo do pequeno ditando seus próprios rumos. Por isso, se a criança não for bem no almoço, por exemplo, não substitua a refeição por leite – na próxima, ela vai comer um pouco melhor.

Naturalmente, estamos aqui falando de pequenas situações do dia a dia – em um dia a criança não almoça, mas no outro se alimenta melhor no mesmo horário. Porém, uma criança que não come absolutamente nada por dias seguidos precisa ser devidamente avaliada.

Bom senso e tranquilidade devem ser servidos à mesa junto com a comida! Vá com calma, seja amigo de seu filho e esqueça as trocas e castigos – comida não é moeda de troca. Nutricionistas e psicólogos podem ajudar os pais que não sabem como conduzir a questão – e criar, assim, uma trajetória positiva para o crescimento saudável e cheio de bons hábitos da criança de hoje!