Criança vegetariana: é possível oferecer uma alimentação adequada?

Postado em 25 de novembro de 2020 por .

Dra. Mônica Wolf
Dra. Mônica Wolf, nutróloga pediátrica da Pueritia

O vegetarianismo é a maneira de se alimentar que exclui produtos de origem animal, como carne, aves ou peixes. De forma resumida, quem deixa de ser onívoro (aquele que se alimenta sem restrições) pode ser chamado de ovolactovegetariano, se incluir laticínios e ovos na dieta; ou vegetariano estrito, o conhecido popularmente como “vegano”, se não consumir nem mesmo ovo, leite e seus derivados. É um hábito em crescimento no Brasil e, assim como qualquer outro, exige uma alimentação balanceada para evitar a falta de nutrientes – principalmente durante a fase de crescimento da criança vegetariana.

Nos menorzinhos, a decisão pode acontecer pela seleção do próprio paladar ou ser fruto de uma rotina, quando a dieta é oferecida por uma família que já é adepta. Em adolescentes, a escolha pode envolver a ética animal, preocupação com o meio ambiente, cuidado com a própria saúde ou até ser o caminho para se encaixar em um grupo de amigos.

No caso de adolescentes, é importante estar atento à possibilidade de transtorno alimentar, identificando precocemente quando a adoção da dieta vegetariana é apenas uma maneira de atingir a perda de peso rapidamente – e muitas vezes de forma exagerada.

Seja qual for a motivação e a faixa etária, o acompanhamento adequado é imprescindível. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, as crianças e os adolescentes vegetarianos devem ser monitorados pelo pediatra nutrólogo capacitado no assunto, com o objetivo de evitar a deficiência de nutrientes importantes e suas repercussões na saúde a curto e longo prazo.

“Se ele não come carne, o que vai comer? O corpo não vai ficar sem as proteínas e vitaminas necessárias?”

A principal dúvida dos pais e responsáveis é: “O que meu filho vegetariano vai comer, se tirar a carne do prato?”. E por mais espantoso que possa parecer, a resposta é bastante simples: todo o resto! Crianças que não comem derivados animais têm à disposição diversos produtos vegetais, de preferência in natura, ou seja, minimamente processados, além de inúmeras formas de preparação desses alimentos, que desafiam a criatividade e elevam o gosto pela “comida de verdade”.

São legumes, frutas, verduras, leguminosas, cereais, tubérculos e oleaginosas, que quando combinados e distribuídos de maneira correta, suprem a demanda de energia para funções vitais, atividade e crescimento de toda criança ou adolescente. Também possuem maior teor de fibras, que melhoram a saúde intestinal e o hábito evacuatório.

Os vegetais mais ricos em proteínas – como lentilha, feijões, grão de bico e soja – são capazes de prover o que a faixa etária pediátrica requer, com a vantagem de não fornecerem gorduras saturadas, que são as mais perigosas para a saúde dos vasos sanguíneos e do coração. Em relação às fontes de gordura vegetal, se bem escolhidas, podem ser ricas em ácidos graxos essenciais, importantes para o desenvolvimento do cérebro e da retina.

Existe um cuidado especial que deve ser tomado em relação aos micronutrientes, que são as vitaminas e os minerais. Isso ocorre porque alguns deles, como as vitaminas B1, B2, B6, B12 e D, e minerais como o ferro, zinco e cálcio, estão presentes em pouca quantidade nos alimentos de origem vegetal ou têm a sua absorção prejudicada. Por outro lado, o consumo exagerado de alguns alimentos também pode levar ao excesso de micronutrientes como a vitamina A ou o selênio, que nesse caso podem ser tóxicos para o corpo. Por isso, o acompanhamento com um nutrólogo é essencial para evitar e tratar desequilíbrios e promover a ingestão nas quantidades adequadas.

Criança Vegetariana

Pais vegetarianos

É muito importante que gestantes vegetarianas recebam assistência de profissionais especializados em vegetarianismo desde antes da concepção, para assegurar tudo que o bebê precisa, inclusive com suplementação materna, quando necessário.

Após o nascimento, o aleitamento materno deve ser estimulado em todas as mães, incluindo as vegetarianas. A indicação da Organização Mundial da Saúde é que a amamentação deve ser exclusiva até os 6 meses e, se possível, prolongada até os 2 anos ou mais. Neste período, as mães devem se manter bem nutridas e serem suplementadas, sempre que preciso. No caso da impossibilidade de amamentar, fórmulas especiais devem ser discutidas com o pediatra.

O processo de introdução alimentar é semelhante para crianças em família de onívoros e vegetarianos. Entretanto, o segundo caso requer muita atenção e pode ser considerado mais delicado, do ponto de vista nutricional. Os pais que desejam introduzir a alimentação vegetariana precisam estar dispostos a investir na variedade de alimentos e seus preparos, e de preferência fazer um acompanhamento paralelo com um nutricionista especializado e fazer a suplementação indicada, com monitorização e consultas periódicas.

Está inseguro sobre o vegetarianismo na infância e adolescência ou deseja aderir com segurança e parceria a esse estilo de alimentação? Entre em contato pelo WhatsApp e agende sua consulta!