Crise dos dois anos: a adolescência do bebê

Postado em 8 de novembro de 2018 por .

Seu bebê ia no colo de todos, sempre ria quando fazem gracinhas e obedecia; porém, ao chegar aos dois anos, se transformou em um pequeno que faz birra em público, só fala chorando e diz “não” para tudo? O fenômeno é comum e tem até nome: crise dos dois anos ou os terrible twos em inglês!

psicóloga infantil

Dra. Beatriz Zilli é psicóloga infantil na Clínica Pediátrica Pueritia

Essa mudança de comportamento ocorre comumente entre um ano e meio e três anos, embora não seja raro se estender até os quatro anos, e a ocorrência de birra é a principal característica, sempre que sua vontade é contrariada diante de uma situação ou solicitação dos pais.

Apesar de nem todas as crianças passarem pela crise dos dois anos, a maioria está sujeita, já que essas reações fazem parte do desenvolvimento natural delas. A intensidade varia bastante, mas geralmente o pequeno bate, debate-se, atira o que estiver à mão e choraminga cada vez que solicita algo. Também resiste na hora de trocar uma roupa ou guardar o brinquedo, se joga no chão e não atende aos pedidos.

E por que isso acontece? É nesse período que algumas mudanças importantes e naturais ocorrem nas crianças, como um desenvolvimento cerebral repentino. Sendo assim, aumentam consideravelmente a competência linguística, organização a do pensamento e a capacidade de exploração do mundo, que resulta na percepção de autonomia e independência para começar a tomar decisões e ter opinião própria.

Não é exatamente uma ação consciente da criança, mas uma tentativa de atender a esse desejo interior que ela sente. Por outro lado, é hora de “aproveitar” esse ciclo de desenvolvimento, envolvido na crise dos dois anos, para também ensinar o certo e o errado, o que ela pode ou não fazer.  Com o exemplo dos pais, aos poucos e com muita paciência é que a criança vai assimilar as regras e se tornar uma criança educada mais tarde.

 

Como lidar com a crise dos dois anos?dois anos

  • Pais, fiquem calmos. Durante a crise, com aquele choro excessivo e até gritos, a criança não é capaz de compreender bem o que você fala, e piora muito se gritar, chantagear ou ameaçar;
  • Converse após a crise. Ajude seu filho a expressar sua frustração, abaixe-se na altura dele e explique que sua atitude foi errada e inaceitável – de forma suave, mas com firmeza. E nada de recompensa depois por bom comportamento;
  • Mantenha o controle em lugar público. Sim, mesmo acontecendo com todo mundo, há julgamento! Caso haja constrangimento, retire o pequeno para um lugar reservado, mas sem falar nada, sem fazer parecer castigo, e só depois converse com ele;
  • Você é o adulto. Não ceda a todas exigências, saiba administrar o que é manha e negocie somente o que for passível de negociação;
  • Demonstre afeto. Quando o clima estiver melhor e o pequeno mais calmo, diga que o ama, abrace-o, converse sempre;
  • Encoraja-o a efetuar tarefas. Estimule ele a realizar escolhas sozinho, ainda que as opções sejam ditadas e limitadas pelos pais, mas que seja algo possível dele fazer – como escolher o sabor do sorvete ou a cor da roupa nova;
  • Mantenha-se alerta aos excessos. Caso nenhuma dessas atitudes funcione e a criança piore, fique exageradamente estressa de forma recorrente, um especialista pode ajudar: o psicólogo!

 

O desenvolvimento é importante

É uma fase difícil? Sim! Mas saiba que é natural e de aprendizado; o segredo é ter paciência e mostrar o caminho. Os filhos vão se tornando independentes ao longo dos anos, criando opiniões, desejos e comportamentos diferentes – e, por incrível que pareça, essa fase se inicia quando ainda eles são bebês. Eles estão descobrindo o mundo por si só, mas nem sempre sabem o que estão fazendo, podem estar perdidos nas escolhas, e aí você se torna a pessoa mais importante para esse direcionamento correto.

O estabelecimento de limites faz parte do processo educativo do seu filho e é essencial para o crescimento e desenvolvimento de um ser humano que irá lidar com diferentes situações da vida, na formação do caráter, autoestima e bom convívio social – um ambiente saudável e comprometido na relação familiar ajuda a passar por este período de forma equilibrada.

Não se esqueça de que acompanhar o crescimento de seu filho é essencial para respeitar as etapas; equilíbrio e saúde mental também são importantes para os pequenos. Por isso, tire suas dúvidas e procure ajuda de um psicólogo quando necessário!