Vamos abordar aqui uma doença que acomete mais de 10 milhões de pessoas no Brasil e que vem apresentando aumento da sua ocorrência em crianças e adolescentes – a diabetes mellitus.

Dr. João L. Ferro, pediatra geral e endocrinologista da Clínica Pediátrica Pueritia
Mas o que é diabetes mellitus?
De uma forma simples, podemos explicar a doença pela deficiência ou ausência de insulina (diabetes tipo 1) ou pela resistência à ação da insulina no organismo (diabetes tipo 2), que costuma estar presente em pacientes com excesso de peso.
Em ambas as situações, a insulina não consegue promover a entrada da glicose (açúcar) presente na corrente sanguínea para dentro das células. Nesse contexto, haverá hiperglicemia (excesso de açúcar no sangue) que caracteriza a doença.
Quando isso pode ocorrer?
Muitas pessoas acham que a diabetes mellitus só ocorre em pessoas mais velhas ou que apresentam excesso de peso. Porém, isso não é uma verdade.
Nos últimos anos, foi constatado o aumento do diagnóstico da doença em faixas etárias cada vez mais novas: aumento de 6,3% para crianças entre 0 a 4 anos e 3,1% entre 5 a 9 anos (dados do EURODIAB).
E qual o motivo de uma criança ter diabetes?
Quando é realizado o diagnóstico de diabetes numa criança, é comum os pais se questionarem: fizemos algo de errado? A resposta é: não!
Na maioria desses casos, a diabetes ocorre porque o próprio organismo produz anticorpos que, ao invés de atacarem invasores (vírus/bactérias), reconhecem o pâncreas como uma ameaça e, gradativamente, promovem a destruição das células produtoras de insulina. Com isso, haverá deficiência desse hormônio e, consequentemente, o aparecimento da diabetes.
A causa desse processo ainda não está completamente esclarecida, mas acredita-se haver uma combinação de fatores genéticos e ambientais.
Quando devo suspeitar da doença?
Os sintomas são insidiosos e com piora progressiva em alguns dias ou semanas:
- Cansaço;
- Perda de peso;
- Aumento do apetite;
- Aumento da ingesta de água;
- Aumento da perda urinária (idas frequentes ao banheiro);
- Sonolência ou agitação.
Como fazer o diagnóstico?
Na suspeita da doença, procure o médico da criança para realizar uma avaliação e solicitar exames. Em pacientes com sintomas clássicos, a dosagem de uma glicemia aleatória maior ou igual à 200 mg/dL confirma o diagnóstico.
Se a criança estiver prostrada, desidratada e com aumento do padrão respiratório, procurar o pronto-socorro para avaliar possibilidade de cetoacidose diabética – quando o sangue fica mais ácido devido ao uso de gordura como fonte de energia.
Como é feito o tratamento?
Devido ao quadro de deficiência de insulina, o tratamento é realizado com a aplicação diária de insulina subcutânea, associado à automonitorização da glicemia com a realização de dextros (ponta de dedo).
É necessário manter uma dieta adequada, sendo importante o seguimento com nutricionista, e é fundamental o papel dos pais/família no suporte, aceitação e compreensão da doença.
Quais complicações meu filho com diabetes pode ter?
O não tratamento correto da doença leva ao quadro de hiperglicemia que, ao longo prazo, pode trazer complicações:
- Redução do crescimento;
- Atraso da puberdade;
- Lesão das retinas;
- Lesão dos rins.
A diabetes tem cura?
Apesar dos avanços da medicina, a cura da diabetes ainda não é uma realidade. Porém, com o tratamento correto associado ao suporte multidisciplinar (médico, nutricionista, psicóloga) e familiar, o paciente com diabetes pode ter uma excelente qualidade de vida.
Hoje, temos atletas, médicos, engenheiros, artistas, políticos que são diabéticos. É importante incentivar os pacientes a acreditar que ser diabético não o impede de ter qualquer sonho!
O acompanhamento médico é essencial para afastar doenças e detectar a diabetes e outras patologias o quanto antes. Levando seu filho regularmente ao pediatra, sua qualidade de vida será melhor!