“Doutora, o que você acha do BLW?”

Postado em 5 de julho de 2017 por .

Por Ana Carolina Rozalem, pediatra geral, alergista e imunologista da Clínica Pediátrica Pueritia

Muitas mães perguntam no consultório, e todos os blogs “moderninhos” postam sobre o BLW, usando uma foto de uma bebê fofinho com o rosto e mãos sujos.

Mas afinal, o que é este BLW?

A sigla vem do inglês Baby-Led Weaning, que significa “desmame guiado pelo bebê” e consiste basicamente em uma forma de introdução de Alimentação Complementar (AC) que dispensa colheres e papinhas e propõe oferecer ao bebê de seis meses alimentos em tiras e pedaços para que ele escolha e pegue sozinho o que quer comer. A técnica, de autoria da inglesa Gill Rapley, aposta na capacidade do pequeno em se autoalimentar e tem se difundido em muitos países, inclusive no Brasil.

Diferente do BLW, a forma de AC tradicional defendida pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) leva em consideração a maturidade apresentada pelos bebês aos seis meses, e orienta que todos os alimentos sejam, sim, oferecidos nesta idade, desde que sua consistência tenha evolução gradual: pastosa, papa e purê, sempre respeitando o ritmo da criança. E o mais importante: aos seis meses, não há desmame algum guiado pelo bebê. Frutas e demais alimentos complementares são introduzidos, mas o aleitamento materno continua até os dois anos, como preconizado pela OMS.

Deste modo, a SBP publicou na semana passada um parecer sobre o BLW enfatizando todas as dúvidas que a forma de se autoalimentar não responde e que são importantes para a alimentação de um bebê de seis meses:

  1. Há impacto sobre o crescimento e desenvolvimento? Ou seja: essa ingestão livre consegue acompanhar e desenvolver a mastigação e todas as posturas necessárias ao ato de comer? A criança consegue comer o suficiente para crescer?
  2. A ingestão de micronutrientes é suficiente? A criança pode ganhar peso, mas vou precisar ficar controlando mês a mês com exames de sangue se a quantidade necessária de Zinco, Ferro, Vitamina B12 e demais nutrientes está sendo atingida?
  3. Como isso influencia o comportamento de pais e cuidadores? A criança será deixada a comer sozinha?
  4. É um método viável para os pais? Uma vez que a idealizadora diz que não se pode ter pressa na refeição, quanto tempo os pais terão que disponibilizar para uma refeição dessas?
  5. É uma forma segura de alimentar os lactentes? Há maior risco de engasgo e asfixia? Trabalhos mostraram que os tipos de alimentos orientados apresentam maior risco de asfixia…

Além disso, o documento ressalta, em mais de um momento, que a forma tradicional de AC também leva em conta a individualidade da criança e o empoderamento dos pais em reconhecer os sinais da criança. Enfatiza a necessidade em “comer junto e não dar de comer”, sendo os pais o maior exemplo de alimentação da criança e o horário das refeições um importante marco de convivência em família.

Também é importante dizer que não há confirmações de que o método tradicional com a colher seja menos estimulante ou menos importante e que os alimentos devem ser explorados pela criança como parte de seu desenvolvimento! Isto é, na AC tradicional, também deve haver exploração por parte da criança e sujeira!

Ao final, o documento conclui:

Não há evidências e trabalhos publicados em quantidade e qualidade suficientes para afirmar que os métodos BLW ou BLISS [de Baby-Led Introduction to Solids] sejam as únicas formas corretas de introdução alimentar. As orientações fornecidas pelos autores são coerentes com o desenvolvimento infantil, mas, limitar um processo complexo a uma única abordagem pode não ser factível para muitas famílias, e, portanto, não pode ser endossado – como forma única de alimentação infantil – pelo Departamento de Nutrologia da SBP.

Desta forma, vamos continuar com nosso bom senso: observando e respeitando os ritmos de nossos bebês, entendendo do que eles precisam e mostrando a eles todos os sabores e texturas para que cresçam um adulto saudável e perfeito!