Dra. Juliana M. Franco, pediatra geral e hematologista pediátrica da Clínica Pediátrica Pueritia
Essa é uma dúvida frequente dos pais, que ficam desconfiados quando o pediatra não solicita exames laboratoriais de rotina para o pequeno. Mas afinal, para que eles servem?
Quando exames são solicitados a adultos, a ideia é pesquisar doenças bastante prevalentes naquela faixa etária, que existam em formas ainda imperceptíveis. Nesses casos, o tratamento precoce tem total impacto na sobrevida do paciente, e o não tratamento pode impactar de forma negativa – ou seja, ele se torna imprescindível.
A maioria dessas doenças é crônica, ocorre em decorrência do envelhecimento do nosso corpo ou do resultado de substâncias nocivas que nos cercam e demoram muitos anos para agir. Por isso, é um contrassenso solicitar tais exames para as crianças como rotina.
Então, o pediatra nunca deve pedir exames para as crianças? Não é bem assim. É necessário avaliar cada paciente e família, verificando queixas e sintomas, antecedentes familiares e, principalmente, o exame físico, juntamente com a antropometria (o famoso pesar e medir), para avaliar se aquele pequeno está saudável ou merece uma investigação laboratorial.
Crianças espertas, que crescem e ganham peso dentro das curvas de normalidade de estatura, peso e índice de massa corporal (IMC) para a idade, que não possuem sintomas importantes na consulta de rotina, se alimentam adequadamente e cujo exame físico não tem alterações relevantes, não precisam de complementação laboratorial para investigar nenhuma doença.
Precisamos olhar mais as crianças e menos os exames!
O que é importante
“Doutora, meu pequeno entrou na creche com seis meses e vive doente. Será que não precisamos pesquisar a imunidade dela?”
Acredite: na grande maioria dos casos, não!
Sabe-se que crianças menores de cinco anos podem ter de 4 a 8 episódios de infecção das vias aéreas superiores (gripes e resfriados) por ano, e que a incidência aumenta quando frequentam a escolinha, chegando a até dez episódios por ano – quase todo mês! Portanto, se a criança ainda faz parte do grupo de crianças que evoluem bem – conforme pontuado –, não vale a picada do exame!
“Mas sempre fiz exames de sangue, fezes e urina, por que não fazer mais?”
A medicina evolui e devemos acompanhar as novidades sempre. A solicitação de exame de fezes de rotina não é mais uma conduta atual, pois ele não é sensível – isto é, não diagnostica grande parte dos pacientes que tem parasitose. O exame de urina também não é indicado, pois não traz informações relevantes que modificarão nossa conduta para com o paciente.
O olhar do pediatra
A verdade é que o olhar clínico do pediatra pode valer muito mais do que qualquer exame laboratorial realizado por uma máquina. É como se uma triagem fosse feita apenas com o histórico e o exame físico.
Nós, pediatras, ao fazermos o check-up:
- Verificamos mucosas para avaliar palidez (primeiro sinal da anemia);
- Auscultamos o coração em busca de sopros e batidas descompassadas, auscultamos o pulmão e contamos a frequência respiratória em busca de doenças;
- Palpamos a barriga procurando aumento ou alterações nos órgãos abdominais;
- Avaliamos a hidratação da pele;
- Perguntamos sobre os hábitos da criança, sua evacuação e micção;
- Questionamos sua atenção, e conversamos com a criança para avaliar a fala e audição;
- Solicitamos detalhes sobre a alimentação e colocamos na curva de peso e altura para avaliar se está dentro do padrão ou foge dele.
Ou seja, com uma consulta detalhada e exame físico atento podemos descartar a maior parte das doenças existentes na infância, suprimindo a necessidade da realização de exames laboratoriais.
Sendo assim, se na sua consulta o pediatra perguntou sobre os hábitos do seu filho, questionou sobre o desenvolvimento, ouviu suas queixas, examinou-o com atenção e chegou a conclusão de que ele não precisa de exames, fique satisfeito e confie nele. Seu filho está saudável e agradece por não ter que realizar exames à toa!
Tem dúvidas? Conte com os pediatras da Pueritia, que prezam por consultas com tempo suficiente para orientar adequadamente a família e acabar com as inseguranças – marque sua consulta!