Fortalecer a imunidade das crianças: é possível?

Postado em 13 de janeiro de 2021 por .

A nossa imunidade é composta por diversos tipos de agentes: temos células que efetuam o trabalho diretamente com os vírus, bactérias e fungos que atacam nosso corpo; e temos também as células que produzem anticorpos – e esses se ligam aos invasores para destruí-los. E a imunidade das crianças não é diferente.

Dra. Juliana Franco, hematopediatra e pediatra geral da Pueritia

O que ocorre, entretanto, é que por ainda não ter tido contato com tantos “bichos” (vírus, bactérias, fungos, etc), o sistema imunológico delas é mais “inexperiente” e acaba demorando mais tempo para responder. Por esse motivo, as crianças ficam doentes mais vezes que os adultos – o que dá a sensação de fragilidade das defesas delas.

Isso não quer dizer que elas tenham uma imunidade fraca. Como já dito em outro post, problemas de imunidade compreendem um grupo enorme de doenças graves, que levam à infecções sérias e até à morte pela incapacidade do corpo de lutar contra os invasores. 

Quando bebês, recebemos anticorpos maternos, ainda dentro do útero. E após o nascimento, durante o aleitamento materno, recebemos mais anticorpos, principalmente imunoglobulina A (IgA), que é responsável pela defesa das mucosas (presente nas vias aéreas e no sistema gastrointestinal). Desta forma, é importante tentar manter a amamentação de forma exclusiva até os seis meses, e se possível, prorrogar até os dois anos.

Além disso, no Brasil, contamos com um excelente sistema público de vacinas, que aos poucos vai “ensinando” o sistema imunológico das crianças quais vírus e bactérias combater. O sistema imunológico vai ficando cada vez mais esperto e se beneficia muito com o contato com a natureza – desta forma, o corpo deles pode ter contato com diversos antígenos que não fazem mal, mas que “treinam” o sistema imunológico para os antígenos maléficos.

Portanto, é importante não criar paranoias e não deixá-los em uma “redoma de proteção”. Aos poucos, conforme eles forem crescendo, incentive-os a brincar do lado de fora, a colocar a mão na terra, a ter contato com a natureza e com os animais de estimação – é provado que além de melhorar o sistema imunológico, esses contatos reduzem alergias. 

Alimentação e atividade física também são essenciais

Vale destacar que a baixa imunidade existe, sim, mas é uma doença complexa e rara, que deve ser cuidadosamente pesquisada pelo pediatra. Porém, uma alimentação saudável e balanceada, que prioriza os itens naturais, é a chave para tudo. 

Ofereça comida de verdade, aquela que compramos na feira (o pastel não vale! Rsrs), que preparamos na panela e que sabemos a origem – veio da terra, das árvores, de algum animal, etc. Esses alimentos contêm micronutrientes que ajudam o sistema imunológico (e todo o nosso corpo) a funcionar adequadamente. Além disso, as fibras contribuem para uma melhor saúde intestinal, com mais bactérias do bem (um dos assuntos mais estudados da atualidade são o quanto essas bactérias da nossa flora intestinal contribuem para a nossa saúde e como ter uma flora intestinal do bem está ligada a menores taxas de doenças crônicas). 

Os alimentos industrializados – aqueles que vêm em saquinho, potinhos e embalagens plásticas, geralmente – podem levar a um estado de inflamação persistente do corpo, que atrapalha a ação do sistema imunológico. Além disso, uma dieta com esses alimentos contribui para obesidade e aumento do risco de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Dietas ricas em açúcares também contribuem para uma pior qualidade de bactérias intestinais. 

Imunidade infantil

A criança atua por imitação, e se você não der o exemplo, é improvável que a criança coma bem espontaneamente. Sendo assim, aplique na rotina da família toda uma alimentação variada com legumes, verduras, frutas, carne – isso vai fortalecer a imunidade do pequeno e de todos da casa! E lembre-se a criança pode ter autonomia, mas quem decide a qualidade dos alimentos é sempre o adulto. 

E a vitamina C? Ajuda a não ter resfriados mesmo? 

A vitamina C é uma grande aliada – é um dos micronutrientes que falei acima. Ela pode ser encontrada na acerola, goiaba, laranja, brócolis e em outros alimentos naturais, e é importante para o fortalecimento do sistema imune. Mas não é verdade que sua suplementação previna doenças e resfriados, pois a quantidade de vitamina C que necessitamos pode ser facilmente adquirida com uma dieta que contenha frutas. Portanto, não é aconselhada a reposição de vitamina C como rotina. 

É importante ressaltar que as únicas suplementações vitamínicas indicadas para todos pela Sociedade Brasileira de Pediatria são de vitamina D (do nascimento até os 2 anos) e de ferro (dos 3 aos 24 meses). Essas vitaminas contribuem, entre outras coisas, para o bom funcionamento do sistema imunológico também! 

Os remédios utilizados para aumentar a imunidade, funcionam?

Infelizmente, não muito. Existem estudos conflitantes em relação a esse assunto – nenhum conseguiu comprovar redução importante de doenças infecciosas e, portanto, eu pessoalmente não recomendo como rotina para as crianças. 

Vale lembrar também que é importante prevenir as doenças infectocontagiosas com cuidados básicos como lavar sempre as mãos com água e sabão, cuidar da higiene pessoal e diminuir o contato com pessoas doentes Além disso, manter hábitos saudáveis contribui para o bom funcionamento do nosso sistema imunológico. 

Qualquer dúvida é só nos enviar uma mensagem via WhatsApp. Marque uma consulta e vamos falar da imunidade e da saúde como um todo do seu filho, analisar se ele entra ou não nos critérios imunodeficiências, ou se são ajustes que devem ser feitos na rotina.