Hipotireoidismo também surge em crianças

Postado em 29 de novembro de 2018 por .

Hipotireoidismo – já ouviu falar? Sabia que ele pode acometer crianças? Inicialmente, vamos entender a glândula da tireoide, essencial para o bom funcionamento do nosso organismo.

hipotireoidismoEla é em formato de borboleta, fica na parte anterior do pescoço e é responsável pela produção dos hormônios tireoidianos. Eles interferem em quase todos os órgãos do nosso corpo e processos metabólicos.

O hipotireoidismo ocorre quando essa glândula não produz quantidade suficiente de hormônio, gerando uma série de sintomas. Muito conhecida entre os adultos, essa doença também pode acometer as crianças. Se a criança já nasce com hipotireoidismo, chamamos de hipotireoidismo congênito; se aparece mais tarde, é dito adquirido.

O hipotireoidismo congênito pode gerar sequelas graves se não tratado de forma adequada e precoce; por isso, foi incluído no teste do pezinho, exame obrigatório para todos os bebês, que deve ser feito até o final da primeira semana de vida. Sem o hormônio tireoidiano, o bebê não cresce nem se desenvolve adequadamente, evoluindo com retardo mental grave. Porém os sintomas só aparecem após algumas semanas ou meses e, por isso, o exame para a detecção precoce é tão essencial.

 

Ganho de peso não é comum entre as crianças

pediatra

Dra. Paula J. Brito, endocrinologista pediátrica e pediatra geral da Clínica Pediátrica Pueritia

Aqui, porém, gostaria de falar mais sobre o hipotireoidismo da criança um pouco maior, o adquirido. Sua principal causa é a Tireoidite de Hashimoto, quando o corpo, por engano, produz anticorpos contra a própria glândula. Esses anticorpos atacam a glândula e geram uma inflamação, dificultando seu funcionamento adequado.

Pode aparecer em qualquer idade, mas é rara antes dos quatro anos e mais comum no início da adolescência. Acomete mais as meninas do que meninos e é mais comum nas crianças que já apresentam alguma doença autoimune e em algumas síndromes, como a Síndrome de Down, por exemplo.

Os sintomas também demoram a aparecer e, diferente do que a maioria pensa, o ganho de peso não é o mais comum entre crianças. Em geral observamos uma piora do rendimento escolar, crescimento insuficiente, sonolência e constipação.  Pode ocorrer também o aumento do volume da glândula, na região anterior do pescoço. Porém, como em sua maioria são sintomas poucos específicos, o exame laboratorial é necessário para fechar o diagnóstico.

 

Inflamação da glândula é a questão-chave

Quais são os exames? Os principais exames para avaliar a tireoide são TSH, T3 e T4. O primeiro é um hormônio produzido na hipófise (outra glândula, localizada no sistema nervoso central) que comanda a tireoide – aumentando o TSH quando quer estimular a produção dos hormônios tireoidianos e diminuindo quando quer “freiar” a produção da tireoide.

hipotireoidismoO T3 e T4 são os hormônios tireoidianos, que vão influenciar então nos outros órgãos do corpo. No hipotireoidismo, a glândula, por estar inflamada, não consegue produzir hormônio suficiente. A hipófise então aumenta o TSH para estimular a tireoide. Portanto, temos o TSH aumentado e o T3 e T4 baixos. É possível, ainda, dosar os anticorpos.

Existe uma condição bem comum que chamamos de hipotireoidismo subclínico – quando o TSH está aumentado (pois a tireoide precisa de um “estímulo a mais”), mas o T3 e T4 estão normais. Isso acontece, pois a tireoide não está tão debilitada (ainda) e consegue responder a esse estímulo e manter a quantidade suficiente de hormônios tireoidianos.

Nesse caso, o tratamento não é necessário, mas a criança deve ser acompanhada, pois pode evoluir com a piora da função tireoidiana em algum momento.

Além dos exames de sangue, é interessante avaliar a tireoide através da ultrassonografia. Nesse exame, poderemos detectar apenas a inflamação (textura heterogênea) ou algum nódulo.

O tratamento é a reposição do hormônio tireoidiano que a criança não consegue produzir em quantidade suficiente. É feito através de um comprimido tomado uma vez ao dia; a dose vai variar conforme idade e peso da criança.

Não recomendamos a realização dos exames de função tireoidiana de rotina, mas, se a criança tem história familiar da doença, apresenta algum dos sintomas ou algum outro fator de risco, o pediatra deve suspeitar e solicitar. Por isso, mais uma vez, o acompanhamento pediátrico é essencial para a suspeita e detecção precoce de doenças.