Antes de falar sobre o início da puberdade, eu vou te explicar o que é a hipófise: é uma glândula que temos dentro do cérebro, especificamente na sela túrcica. Ela produz diversos hormônios que comandam outras glândulas no corpo, como tireoide, adrenais, testículos, ovários, entre outras. A hipófise, junto com o hipotálamo, faz o controle central das glândulas e do equilíbrio hormonal para o resto do corpo.
Especificamente na puberdade, é o hipotálamo que começa a produzir o GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina), que estimula a hipófise a produzir as gonadotrofinas: o LH (hormônio luteinizante) e o FSH (hormônio foliculoestimulante). O LH e o FSH, por sua vez, estimulam as gônadas (testículos e ovários) para o início da puberdade.
Para simplificar: GnRH (hipotálamo) → LH/FSH (hipófise) → Estrógeno/Testosterona (ovarios/testículos). O hormônio que marca o início da puberdade é o LH, que pode ser avaliado por meio de exame laboratorial.
Alterações na hipófise podem interferir no início da puberdade
Existe um período, logo após o nascimento, entre 3 semanas de vida até os 3-6 meses, que chamamos de minipuberdade, pois o bebê também aumenta a produção dos hormônios LH e FSH e, consequentemente, de estrógeno ou testosterona.
Depois desse período, a hipófise fica “adormecida” até o início da puberdade – entre 8 e 14 anos nas meninas, e entre 9 e 15 anos nos meninos. A medicina ainda não sabe exatamente qual é o gatilho exato que determina o início puberal.
Chamamos de puberdade precoce quando o início da puberdade ocorre antes do esperado, e nessa situação devemos sempre avaliar a hipófise. Existe a puberdade precoce periférica (que não é causada pela produção antecipada de LH/FSH), mas a mais comum é a puberdade precoce central ou dependente de gonadotrofinas – quando a hipófise começa a produzir LH/FSH antes da hora.
Muitas vezes não encontramos um motivo específico para a hipófise ter antecipado o início dessa produção, mas isso pode ocorrer também por alguma alteração anatômica na glândula – seja uma malformação (alteração congênita que sempre esteve presente, mas que só é percebida durante a puberdade), ou alguma doença na região (tumor, hidrocefalia, sequela de algum trauma, meningite). Pensamos nessas causas especialmente nos casos mais precoces – com início da puberdade antes dos 6 anos nas meninas e em qualquer idade nos meninos.
Algumas malformações e alterações da hipófise também podem causar um retardo da puberdade. Quando a menina não inicia nenhum sinal de puberdade até os 14 anos, ou o menino até os 15 anos, precisamos também investigar a região e a produção de hormônios da hipófise para saber porque o gatilho não ocorreu. Em muitos casos, pode ser necessário estimular a puberdade artificialmente, com reposição dos hormônios via medicamentos.
Identificando o problema
Para avaliar a glândula, dispomos da ressonância magnética com ou sem contraste da sela túrcica. Imagens do restante do crânio podem ser úteis, dependendo da suspeita clínica.
Também devemos avaliar em exames de sangue a produção hormonal. Sempre que houver deficiência na produção de algum hormônio hipofisário ou alguma má formação da glândula, devemos vigiar todos os outros hormônios produzidos por ela. O mesmo paciente pode apresentar deficiências de diversos hormônios, e elas podem ter início em fases diferentes ao longo da vida.
Fique atento aos sinais do início da puberdade e acompanhe sempre com o pediatra essas mudanças. Caso haja algum desvio da normalidade, o endócrino-pediatra deve fazer parte da investigação e acompanhamento – agende sua consulta comigo!