Intolerância à lactose: por que acontece?

Postado em 18 de janeiro de 2019 por .

Hoje em dia, ouvimos muitos casos de crianças com intolerância à lactose. Por que ela ocorre? Tem como tratar, até para evitar o incômodo que ela causa, ou mesmo curar?

Daniela Gorga do Amaral é gastropediatra e pediatra geral da Clínica Pediátrica Pueritia

Inicialmente, vamos entender o que é essa intolerância.

O leite é composto basicamente por gordura, proteínas (caseína, alfa lactoalbumina e betalactoglobulina) e carboidratos (lactose).

No ápice das microvilosidades do intestino, delgado fica a enzima responsável pela absorção da lactose, a lactase.

A intolerância à lactose ocorre quando a quantidade de lactose ingerida for maior do que a capacidade da lactase de realizar sua absorção. Assim, esse açúcar chega ao intestino grosso inalterado, sendo então fermentado por bactérias que irão fabricar ácido lático e gases, promovendo maior retenção de água e o aparecimento de diarreias, distensão abdominal e cólicas.

A intolerância pode ser dividida em tipos:

  1. Deficiência congênita – por um problema genético, a criança nasce sem condições de produzir lactase, causando diarreia intensa desde a primeira mamada e podendo levar ao óbito se não diagnosticada rapidamente. É muito rara;
  2. Deficiência primária ou ontogenética – todos os seres humanos nascem com uma quantidade “pré-determinada” de lactase e, com o passar dos anos, essa quantidade vai se reduzindo naturalmente e progressivamente, ou seja, nossa capacidade de absorver a lactose vai diminuindo com o passar dos anos. Esta é a forma mais comum de intolerância;
  3. Deficiência secundária – a produção de lactase é afetada por doenças  intestinais, como diarreias agudas, doença de Crohn, doença celíaca ou alergia à proteína do leite, por exemplo. Nesses casos, a intolerância é temporária e tende a desaparecer com o controle da doença de base.

 

intolerância à lactose

 

Quanto de leite faz mal?

Dentre os mamíferos, o leite materno é aquele com a maior quantidade de lactose (7%), por isso é praticamente impossível lactentes (ou crianças menores de dois anos) terem intolerância à lactose primária. Geralmente, os sintomas surgem em crianças mais velhas e tendem a se intensificar ao longo do tempo.

Não é possível determinar a quantidade de lactose que cada indivíduo consegue ingerir sem ter sintomas. Isso acaba ocorrendo “naturalmente”, conforme os sintomas aparecem. Por exemplo, para uma pessoa, 50 ml de leite já pode ser o suficiente para causar sintomas, enquanto para outra seria preciso consumir dois litros para ter algum tipo de sintoma.

Se você perceber os sintomas (dor abdominal, náusea, gases, diarreia e cólicas) após ingerir laticínios, procure um gastroenterologista. Apesar dessa intolerância não causar riscos de vida, a sensação é de muito desconforto.

 

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico pode ser feito de três maneiras:

  • Teste oral de tolerância à lactose: o paciente recebe uma dose de lactose em jejum e, depois de algumas horas, são colhidas amostras de sangue que indicam os níveis de glicose;
  • Teste de hidrogênio na respiração: o paciente ingere uma bebida com alta quantidade de lactose e o médico analisa o hálito da pessoa em intervalos que variam de 15 a 30 minutos por meio da expiração. Se o nível de hidrogênio aumentar, significa um processamento incorreto da lactose no organismo;
  • Teste de acidez nas fezes: o exame de fezes evidencia ph mais ácido nas fezes devido à presença dos ácidos produzidos pelas bactérias quando a lactose não foi bem digerida.

 

intolerância à lactose

Não existe cura para a intolerância à lactose, mas é possível tratar os sintomas, limitando os produtos com leite ou derivados.

Se a intolerância não for grave, o indivíduo não precisa excluir da dieta qualquer alimento que contenha lactose. Aos poucos, a pessoa descobre quais alimentos lácteos ela pode ingerir sem sentir tanto desconforto. Hoje já temos diversos produtos no mercado sem lactose, como queijos, requeijão, iogurtes, leites, biscoitos, pães e bolos, entre outros.

Outra forma de evitar os sintomas é experimentar os suplementos da enzima lactase, disponíveis no mercado em sachês, comprimidos ou tabletes mastigáveis. O medicamento deve ser ingerido junto com os laticínios e a dose depende diretamente da quantidade de lactose presente no alimento a ser ingerido.

Fique de olho nos sintomas e não deixe de buscar a orientação de um gastroenterologista para tratar de seu filho; ninguém deve viver com tal desconforto.