A anquiloglossia, a popular “língua presa” ou “freio curto” é uma anomalia congênita, caracterizada por um frênulo lingual (prega de tecido que fica embaixo da língua) anormalmente curto e espesso, que pode dificultar os movimentos da língua. O grau de dificuldade depende da espessura, elasticidade e do local de fixação superior e inferior do frênulo na língua e cavidade oral, e pode ser classificada em: leve, moderada ou severa.
A maioria dos casos pode ser assintomática (não exibe sintomas), ou se resolver até os 5 anos de idade. Além de interferir na amamentação, a língua presa pode dificultar a introdução alimentar de sólidos por alterar a mastigação e a deglutição. Ainda, alterar a fala (a chamada dilalia), comprometer o crescimento orofacial, interferindo na respiração e na limpeza dos dentes e, por fim, dificultar o beijo!
O fato de o freio existir não significa que atrapalhe a amamentação, mas tem que ser bem avaliado nos casos de bebês com dificuldades de pega, mamadas muito longas associadas a perda de peso ou dificuldade de ganhar peso e engasgos frequentes. Outras situações a serem avaliadas são: mães com dor ao amamentar, fissuras e mastites recorrentes e candidíase mamária – e que normalmente acarretam depressão materna e desmame precoce.
Alterações futuras na fala podem ser evitadas
Em caso de evidência de que a língua presa seja a causa da dificuldade de amamentação, como primeira opção pode-se tentar – para alguns tipos de frênulo – exercícios para a correção da mamada. Em casos mais seletos é indicada a cirurgia de frenotomia (pequeno corte para liberar a língua) ou a frenectomia (retirada do próprio frênulo).
Esses procedimentos podem ser realizados por odontopediatra, otorrinolaringologista ou cirurgião pediátrico com experiência. Logo após o procedimento a criança já pode mamar, e se ocorrer dificuldade transitória de adaptação, é preciso ser acompanhado de perto por um profissional da amamentação.
O diagnóstico precoce da anquiloglossia (língua presa) ajuda não só a evitar o desmame precoce, como também a melhorar a qualidade de vida das mães e dos bebês, evitando alterações futuras e o consequente bullying, devido às questões da fala.
Teste da linguinha, sim!
Desde 2014 no Brasil, há uma lei que garante que o teste da linguinha seja realizado por fonoaudiólogos em todos os bebês nascidos nos hospitais e maternidades do país. Esse ano a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) pediu a revogação da lei, entre as alegações de que já faz parte do exame do pediatra a avaliação oral, e a afirmação de que a frequência é baixa, não justificando a obrigatoriedade para todos os bebês.
Eu, como pediatra integral e pró-amamentação, sou a favor da lei! Ela ajuda na detecção e tratamento precoces, evitando comprometimento do bem-estar da família e gastos desnecessários com desmame, tratamento tardio (custo muito maior da intervenção cirúrgica) e gastos com o tratamento das funções alteradas e suas sequelas (físicas e mentais). Também defendo a atuação multiprofissional, desde o seu diagnóstico até a eleição do melhor tratamento para cada um dos casos.
Se você está com dificuldades na amamentação, procure ajuda o quanto antes e, se existe a suspeita que seu bebê tem a língua presa, procure o profissional habilitado para orientar da forma correta – cada caso é único, e agindo hoje você tira obstáculos da frente do futuro de seu filho.