Manchas e sangramento: PTI exige acompanhamento adequado

Postado em 10 de janeiro de 2019 por .

A PTI – antes, chamada de “púrpura trombocitopenia imune” e, recentemente, passou a ser conhecida como “trombocitopenia primária imune” – se caracteriza pela produção de um anticorpo contra as plaquetas, ou seja, o organismo cria anticorpos que destroem as plaquetas, fazendo com que isso as reduza em número.

Dra. Juliana M. Franco, pediatra geral e hematologista pediátrica da Clínica Pediátrica Pueritia

Se a condição durar de três meses a um ano, é chamada de aguda; porém, se ultrapassar um ano de duração, torna-se crônica.

E o que impressiona um pouco são os sintomas. O mais comum são as petéquias, ou manchas vermelhas pelo corpo. Algumas crianças parecem ter sido espancadas pela quantidade de machas que surgem, e há pais que ficam com receio de levá-las ao pronto-socorro e pensarem que, de fato, a criança apanhou.

Há, também, os sangramentos, que podem ocorrer na gengiva, no nariz, na urina ou nas fezes, mas eles são mais raros.

 

Como sei que é PTI?

O cenário mais clássico é: a criança tem uma doença infecciosa, como um resfriado ou dor de garganta, geralmente viral, e dias depois isso evolui para as manchas. Pode ocorrer também depois de alguns dias que a criança foi vacinada.

O médico pedirá um hemograma e verificará que as plaquetas estão baixas – mas é apenas e tão somente a plaqueta. Não há indicação de anemia, nem de leucócitos baixos ou altos.

E, por plaqueta baixa, entende-se abaixo de 100 mil plaquetas. Quando é PTI, a contagem é geralmente bem baixa mesmo – 12 mil, 20 mil plaquetas; o normal é ter acima de 150 mil.

 

Por que alguns são tratados e outros, não?

O tratamento é controverso. Estudos mais recentes têm mostrado que tratar a PTI aguda quando o paciente não tem sangramento em mucosas (nasal, oral, urinária, intestinal) não diminui o risco de sangramento mais grave. Então, orientam a não tratar o paciente que não sangra, independentemente do número de plaquetas.

Antigamente, tratavam-se aqueles com contagem abaixo de 20 mil plaquetas; no Brasil, há profissionais que ainda seguem essa conduta mais antiga.

O tratamento é voltado para evitar a ação desses anticorpos contra a plaqueta, geralmente feito com corticoides ou imunoglobulina.

A medicação tem duração limitada – o efeito da imunoglobulina chega a três semanas; já o corticoide, ao ser interrompido, geralmente faz com que o número de plaquetas volte a cair.

Em alguns casos, é indicada ainda a retirada do baço – órgão que efetivamente destrói as plaquetas que estão grudadas nesses anticorpos. Como o baço é um órgão que ajuda no combate a doenças infecciosas mais graves, opta-se por esta cirurgia apenas nos casos mais graves e que não respondem aos remédios.

Cada paciente reage de forma diferente à PTI; tem aquele que tem a plaqueta baixa, inicia o tratamento, toma imunoglobulina e a plaqueta nunca mais cai. Há o que, depois de certo tempo de encerrado o tratamento, tem nova queda da plaqueta, e então volta a se tratar – e entra em um movimento cíclico. Para plaqueta, não há receita de bolo; é preciso estudar cada paciente individualmente.

Para ser adequado, o seguimento tem que ser com hematologista; não se recomenda acompanhamento apenas com o pediatra.

 

PTI não “vira” leucemia

PTIQuando as pessoas procuram nos sites de busca por “plaqueta baixa” ou “plaquetopenia”, a primeira resposta que encontram é leucemia.

É preciso deixar claro: PTI nunca vai se desenvolver para uma leucemia, uma coisa não leva à outra – aliás, nada “vira” leucemia.

Existem casos raríssimos de leucemia que se apresentam inicialmente apenas como plaqueta baixa, mas, geralmente, nesses casos, os resultados do exame físico da criança são diferentes. Na dúvida, o médico não usa o corticoide, pois ele piora o prognóstico da leucemia.

 

PTI crônica x doença autoimune

Diante de uma PTI crônica, que se prolonga por mais de um ano, é importante descartar uma doença autoimune, como lúpus e outras reumatológicas, que podem ter sua primeira manifestação como uma PTI.

Há exames específicos para essa diferenciação e, caso haja autoimunidade, o acompanhamento é feito conjuntamente pelo hematologista e o reumatologista.

É preciso entender que uma PTI crônica não significa incurável – há casos de melhora depois de quatro, cinco anos. Novos estudos indicam fazer o tratamento: quando a plaqueta é persistentemente baixa, a qualidade de vida da criança é pior, pois ela não pode fazer educação física, praticar esportes, fazer esforço físico, por haver maior risco de sangramento.

Existem, assim, medicamentos que acabam com os anticorpos temporariamente; é como se eles fizessem um reboot do sistema imunológico da criança. O tratamento acaba sendo indicado para melhorar a qualidade de vida e deixar as crianças e os pais mais tranquilos.

Porém, pacientes com PTI crônica, mas com contagem de plaquetas um pouco mais alta, de 50 mil, por exemplo, são acompanhados, mas não medicados.

Com um ano com o total de plaquetas regular, eu opto por dar alta ao paciente, mas é uma decisão que pode variar de médico para médico. Não é sabido se a condição vai voltar; uma vez os pais informados, acredito que basta, sobretudo se mantiverem o acompanhamento do crescimento da criança com o pediatra. Se voltarem os sintomas, é preciso procurar o pronto-socorro e, no segundo momento, o hematologista.