Meu filho não cresce: a preocupação com a baixa estatura

Postado em 24 de janeiro de 2018 por .

Uma das preocupações mais frequentes dos pais no consultório do pediatra é sobre o crescimento de seus filhos. Por que meu filho não cresce? Ele está baixo pra a idade? Tem baixa estatura? Está crescendo no ritmo normal? Existe algo que eu possa fazer pra ele crescer mais?

De fato, são vários fatores que influenciam no crescimento do pequeno. Nos primeiros dois anos de vida, o fator nutricional é o mais importante. Depois disso, fatores como a altura dos pais, doenças crônicas e hormônios predominam e podem influenciar na baixa estatura.

Um acompanhamento regular com um pediatra é essencial para identificar se a criança tem uma estatura dentro do esperado e se está crescendo bem. Em cada consulta, o médico deve medir o paciente e colocar o resultado na curva de crescimento.

Baixa estatura (BE) é quando a estatura da criança está abaixo do chamado “percentil 3”, a última linha do gráfico. Mas se a criança está desacelerando (velocidade de crescimento abaixo do esperado para a idade) ou com a estatura muito abaixo do esperado para aquela família, isso também deve chamar a atenção do médico. Veja como o acompanhamento é importante:

 

gráfico estatura infantil

No primeiro gráfico, simulo a caneta o crescimento do menino (hipotético): ele está abaixo da linha chamada do ‘p3’, mas vem crescendo em ritmo normal, acompanhando acompanha a curva. Se a família for baixa (delimitei no final à direita um canal familiar baixo), ele pode ser normal, e só estar seguindo o padrão familiar. De qualquer forma, precisa de um acompanhamento. Na segunda simulação, o crescimento desacelerou, e o menino passou a ‘fugir’ da linha de onde vinha crescendo. Na terceira imagem, o mesmo menino do 1º gráfico com a simulação de uma família maior, como indica o risco ao lado direito. Neste caso, ele estaria muito menor do que o padrão familiar, o que precisaria ser investigado

 

 

As causas do não crescer

pediatra

Dra. Paula Jungmann Brito, pediatra geral e endocrinologista pediátrica da Clínica Pediátrica Pueritia

São várias as causas. Na maior parte das vezes, a criança baixa é saudável, mas vem de uma família de baixa estatura, ou tem uma maturação óssea um pouco atrasada, e deve entrar em puberdade um pouco mais tarde.

Em outros casos, os exames são absolutamente normais e estas crianças ganham o diagnóstico de baixa estatura idiopática – sem causa identificada.

Por último, existem aqueles quadros que são patológicos (doenças) e necessitam de tratamento, que é específico a depender da causa.

Como diferenciar cada uma dessas situações? É importante destacar que o pediatra ou endocrinopediatra avalia um conjunto de características para determinar a causa da BE e se ela precisa ser tratada:

  • História: antecedentes pessoais da criança e antecedentes familiares;
  • Exame físico: estatura atual, velocidade de crescimento, estadio puberal, proporção entre segmentos do corpo, deformidades ósseas ou desvios fenotípicos (indicam alguma síndrome genética);
  • Exames: raios X de mãos e punhos, exames de sangue, eventuais testes de estímulo e outros exames de imagem.

Na maior parte das vezes, o médico necessita de certo tempo para analisar todos esses dados e chegar ao diagnóstico – novamente, fica comprovada a importância do acompanhamento.

 

 

Tratamento com hormônio deve ser muito bem pensado!

baixa estatura infantilFeito o diagnóstico, podemos então partir para o tratamento, quando necessário. Em caso de doenças crônicas, como hipotireoidismo ou doença celíaca, é o tratamento específico dessas doenças que corrigirá o déficit de crescimento.

Algumas síndromes genéticas e displasias ósseas (doenças do próprio osso que impedem o crescimento adequado) respondem de formas diferentes ao hormônio de crescimento e, em algumas, o uso do hormônio deve ser evitado por risco de complicações. Algumas crianças que nasceram pequenas para idade gestacional ou que se encaixam no diagnóstico de baixa estatura idiopática podem se beneficiar da reposição do hormônio de crescimento. E naqueles em que a produção é claramente falha, esta reposição traz grandes benefícios.

Há o tratamento com hormônio de crescimento (também conhecido como GH ou Somatropina); porém, não é simples. A medicação é cara (a depender da dose, porém estamos falando de milhares de reais todo mês), injetável (como a insulina), diária (sendo a adesão crucial para o sucesso terapêutico) e com uma duração de anos (o início pode ser tão precoce quanto 2-4 anos de idade, e continua até a parada do crescimento).

Casos específicos conseguem receber a medicação pelo SUS, mas apenas se for comprovado algum dos diagnósticos selecionados (como Síndrome de Turner e Deficiência de GH). Portanto, a indicação desse tratamento deve ser muito bem analisada e discutida em conjunto com os pais.

 

“Ele vai crescer até os 18 anos”: mito!

Se você acha seu filho muito menor do que os colegas ou familiares, discuta isso com o pediatra. Quanto mais cedo identificado um problema no crescimento, maiores as chances de corrigi-lo.

Os jovens não tendem a crescer até os 18 anos, mas sim até o fim da puberdade, que pode não ser percebida pelos pais no dia a dia.

O popular “estirão” na adolescência pode não compensar totalmente uma estatura mais baixa na infância; depois disso, a cartilagem de crescimento já está quase fechada e não há mais muito que fazer.

Os principais marcos da puberdade são o aumento das mamas nas meninas e aumento dos testículos nos meninos. É nessa fase que deve ocorrer um crescimento mais acelerado e, depois dela, se alcança a estatura final.

O melhor remédio para a baixa estatura é um só: acompanhamento médico! Literalmente, neste caso, não se pode deixar para amanhã o que pode ser feito hoje…