Doutora, meu filho não precisa de mais vitamina D?

Postado em 24 de janeiro de 2019 por .

Esta é uma pergunta recorrente nas consultas. Primeiramente, é bom entender que a maior parte da vitamina D é produzida pelo nosso corpo; cerca de 80% a 90% dela, através da exposição solar e apenas 10% a 20% é adquirido pela dieta.

pediatra

Dra. Paula J. Brito, endocrinologista pediátrica e pediatra geral

Os alimentos que contêm vitamina D basicamente são alguns queijos, gema de ovo, óleo de fígado de peixes, cogumelos, sardinha e atum. E mesmo nesses alimentos, muitas vezes pouco frequentes na nossa alimentação, a quantidade de vitamina D é pouca, então, nossa principal fonte é mesmo pela exposição solar.

A função primordial da vitamina D é no metabolismo do cálcio; ela absorve principalmente cálcio nos intestinos e age também nos ossos, ajudando na formação e estrutura óssea. Por isso, é importante durante toda vida, sobretudo nos primeiros anos, para uma formação óssea adequada.

A principal doença causada pela deficiência da vitamina D é o raquitismo (em crianças) e a osteomalacia (em adultos). Essas doenças ósseas podem causar deformidades e maior risco de fraturas; não são tão comuns hoje em dia, pois no Brasil temos muito sol e é simples fazer a reposição por meio de medicação. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que seja feita a suplementação de vitamina D para todas as crianças até os 2 anos.

Para produzir vitamina D pela exposição do sol, não se pode usar protetor solar. Sendo assim, 15 minutos de exposição pela manhã ou no final da tarde são suficientes – depois disso, é importantíssimo passar o protetor para evitar câncer de pele.

 

A importância da dose certa

Pode-se dizer que a vitamina D também interfere em outros sistemas. Foi verificado que outras células, além das dos ossos, produzem e têm receptor para ela,  como por exemplo células do sistema imunológico,  cardiovascular, músculos, neurônios, entre outros – são vários os tecidos que parecem sofrer alguma interferência.

vitamina DHá muitos estudos em andamento avaliando o papel da vitamina D na prevenção ou, até mesmo, no auxílio do tratamento de doenças dos sistemas em que ela interfere, principalmente nas autoimunes, como esclerose múltipla e lúpus, além de diabetes, artrite reumatoide, hipertensão e risco de câncer. Esses estudos estão ainda em andamento e são controversos.

Porém, de uns tempos para cá, vêm ocorrendo uma supervalorização da vitamina D e uma suplementação exagerada, visando evitar ou melhorar essas doenças; no entanto, isso é perigoso, ja que o excesso da vitamina pode gerar uma intoxicação.

Quando a gente se expõe muitas horas no sol e produz nossa vitamina D, o nosso corpo não vai produzi-la em excesso, pois ele tem um mecanismo de defesa natural (paramos de produzi-la quando já alcançamos uma certa concentração dela). Mas se a pessoa toma por medicação, ela não tem esse mecanismo de defesa e tão pouco o corpo consegue excretar o excesso. O maior perigo tem sido o uso de medicações manipuladas – não é incomum ocorrer erros na formulação dessas medicações e o paciente acaba por receber uma dose muito maior do que o indicado.

A intoxicação gerada pelo excesso de vitamina D leva a dor abdominal, vômito, fraqueza, câimbra e, em um estado mais grave, à formação de cálculo renal ou calcificação em outros tecidos, além da piora da função do rim.

 

O verdadeiro poder da vitamina D

Níveis normais de vitamina D são essenciais para a nossa saúde, porém seus excessos (causados por uma suplementação exagerada e sem a adequada monitorização) podem gerar riscos.

O mais importante é realizar um acompanhamento médico, e não embarcar na onda de alguns profissionais que se dizem “especialistas” em vitamina D, afirmando que vão curar ou evitar diversas doenças. A realidade é que o paciente pode se expor ao risco de intoxicação e deixar de realizar o tratamento adequado, quando necessário.

Se a conduta do médico que se diz especialista no tema é muito diferente da de outros médicos que você visitou ou conhece, desconfie!

Não há comprovação de que a suplementação em grandes quantidades de vitamina D cure alguma doença autoimune; ela possivelmente ajudará no controle, mas, de forma alguma, substituirá o tratamento usual.

Atualmente, escutamos muito que vitamina D é a chave para curar tudo, mas lembre-se de que não é bem assim! Sugiro aos pais e famílias que têm interesse em participar dos estudos a buscarem instituições de ensino, universidades e locais onde eles sejam desenvolvidos por equipes confiáveis, para sempre tirar as dúvidas.

E nós, da Pueritia, também estamos de braços abertos para receber as crianças e sua família! Vamos viver com equilíbrio e saúde na medida certa!