Dr. João Ferro, pediatra geral e endocrinologista da Clínica Pediátrica Pueritia
Sabemos que é difícil restringir as guloseimas dos pequenos e resistir àquelas bochechas recheadas fofas e chamativas. Mas a verdade é que gordura muitas vezes não é sinônimo de saúde e, sim, de obesidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade infantil representa um dos mais sérios desafios de saúde pública no século XXI.
Em 2015, por exemplo, o número de crianças menores de cinco anos com sobrepeso era estimado em mais de 42 milhões no mundo todo. No Brasil, números mais recentes demonstram que 7,3% das crianças com menos de cinco anos, 30% das crianças entre 5 e 9 anos e 20% dos pré-adolescentes com idade entre 10 e 19 anos estão acima do peso.
O diagnóstico de sobrepeso/obesidade é realizado clinicamente, sem necessidade de exames complementares. Após avaliação do peso (kg) e da estatura (cm), é calculado o Índice de Massa Corpórea (IMC – kg/m²) e seu valor é comparado com um padrão de referência para a faixa etária (curva IMC x idade).
Faça o cálculo IMC do seu filho! Divida o peso (em kg) pela altura (em metros) ao quadrado. Se o número for maior ou igual percentil de 85 e menor que 95 é considerado sobrepeso. Agora, maior ou igual percentil de 95 revela obesidade.
Criança saudável = adulto saudável
O excesso de peso é causado por fatores genéticos e ambientais (hábitos alimentares, comportamentais e estilo de vida dos pais), e podem iniciar em qualquer idade. Ela pode ser desencadeada pelo desmame precoce, má distribuição de alimentos durante a infância, substituição do aleitamento materno pelo consumo excessivo de carboidratos, bem como o sedentarismo.
O risco de obesidade quando nenhum dos pais possui sobrepeso é de 9%; já quando um dos progenitores é obeso, sobe para 50%, e para 80% quando ambos o são. Ou seja, isso demonstra a importância da necessidade de conscientizar toda família para aderir às mudanças de hábito de vida.
Estar acima do peso representa muito mais do que um problema de estética em um mundo cada vez mais crítico com padrões de beleza. O excesso de tecido adiposo traz diversas complicações biopsicossociais na vida da criança:
- Distúrbios Psicossociais: ansiedade, depressão, rejeição social e isolamento;
- Distúrbios do Crescimento: avanço da idade óssea, maturação sexual precoce (meninas);
- Distúrbios Respiratórios: apneia do sono, asma, intolerância ao exercício;
- Distúrbios Cardiovasculares: hipertensão arterial, aumento do risco de infarto/AVC na vida adulta;
- Distúrbios Ortopédicos: escoliose, lordose;
- Distúrbios Metabólicos: Diabetes Mellitus tipo 2, dislipidemia (alteração do colesterol);
- Complicações Futuras: obesidade infantil = risco elevado para a obesidade na idade adulta.
O exemplo começa em casa
Diferentemente dos adultos, não há medicamentos liberados para auxiliar na redução de peso do público infantil. Sendo assim, o tratamento nessa fase da vida é comportamental, baseado na mudança de hábito (dieta + atividade física) do paciente e de toda família – a principal ferramenta.
Nos casos mais graves, há a opção cirúrgica; porém, apenas para pacientes acima dos 16 anos. Diante deste cenário, fica evidente que, em se tratando de obesidade infantil, a melhor conduta é reconhecer e modificar os hábitos não saudáveis dentro de casa e sempre pensar quais alimentos colocar na dispensa, que poderão levar ou perpetuar o ganho de peso excessivo do pequeno.
Confira algumas orientações para melhorar a qualidade de vida das nossas crianças:
- Dieta regular e fracionada: não substituir as grandes refeições por “lanches”;
- Atividade física, de 20 a 60 minutos por dia, cinco vezes na semana;
- Sono adequado;
- Controle de tempo gasto em TV/aparelhos digitais = 2 horas por dia;
- Desencorajar hábitos sedentários;
- Avaliar possíveis complicações psicológicas, dinâmica e hábito familiar.
Seu filho está com sobrepeso/obesidade ou ainda tem dúvidas sobre o assunto? Marque uma consulta na Clínica Pediátrica Pueritia, e receba um atendimento completo. Estamos esperando por você!