Sinusite em crianças: raio x não é necessário!

Postado em 26 de abril de 2019 por .

Dando continuidade à série de textos sobre doenças respiratórias, vou falar de outra doença comum no outono/inverno: a sinusite! Com ela, vêm os tais raios x de seios da face – e precisa? NÃO!

pediatra
Dra. Márcia Fonseca (CRM 156.504), pediatria geral

“Por que, doutora?” Os seios da face não nascem formados. Por exemplo, os seios frontais só estarão visíveis ao raio x aos sete anos, e os maxilares após a segunda dentição. Então, solicitar o raio x de seios da face para menores de sete anos não faz sentido.

E mais: o diagnóstico de sinusite aguda é clínico! Mesmo em crianças maiores e adultos, são a história e o exame físico que dão o diagnóstico. Exames de imagem existem para esclarecer dúvidas diagnósticas ou descartar complicações. Ou seja: RAIO X DE SEIOS DA FACE PARA DIAGNÓSTICO DE SINUSITE NÃO DEVE SER ROTINA!

Muitas vezes, mas muitas vezes mesmo, tive que explicar para os pais que o exame não era necessário porque eu já sabia que o paciente tinha sinusite. Muitos deles não aceitavam minha justificativa e até procuravam outro profissional no pronto-socorro para fazer o pedido. E, do outro lado, também já tive que “ver” inúmeros exames de crianças menores de cinco anos ou maiores, mas com clínica clássica de pedidos inadvertidamente por colegas de profissão. Portanto, a via é de mão dupla: pais e pediatras, não peçam raio x de rotina de seios da face para sinusite – vamos mudar este cenário, analisar a real necessidade!

E mais: sinusite, no raio x, pode ser viral, sem necessidade de antibiótico.

E como saber que precisa da medicação?

A sinusite tem algumas apresentações clássicas e, nestes casos, provavelmente prescreveremos antibiótico:

1 – Após 4 a 5 dias de um quadro de resfriado comum, quando já seria esperada a melhora, há uma piora dos sintomas com retorno da febre, aumento importante da secreção, aumento ou persistência da tosse, queda do estado geral, inapetência e a secreção apresenta-se purulenta (amarela e espessa);

2 – Persistência de um quadro de tosse, obstrução e secreção nasal abundante por mais de 10-12 dias, sem melhora alguma no período;

3 – Início do quadro já com sintomas severos, febre de 39 graus associada à secreção purulenta em grande quantidade (ao contrário da secreção clara do início do quadro viral).

Raio x somente quando for necessário

Portanto, criança pequena com dor de cabeça: não é sinusite. Criança maior com dois dias de sintomas, com dor na região frontal da cabeça, associada à obstrução nasal e secreção transparente é rinossinusite viral (o tal do resfriado comum) – e não precisa de antibiótico!

Lembrando: nessa época mais fria, não vamos deixar a condição (sinusite) dar margem à recomendação desnecessária de exames. Solicitação de raio x apenas se houver dúvida diagnóstica (história não típica ou incompatível com o exame físico), e apenas para maiores de sete anos!

Vamos tentar usar menos antibióticos e menos radiação nas nossas crianças?