Sopro no coração: devo me preocupar?

Postado em 28 de novembro de 2019 por .

Dra. Ingrid Tremper, cardiologista pediátrica da Pueritia

Ao se deparar com o termo sopro no coração, muitos pais ou responsáveis se preocupam e ficam ansiosos – e é por isso que neste texto resolvi falar sobre o tema para informar e deixá-los mais tranquilos.

E por quê? Sopro no coração não é sinônimo de defeito no órgão, mas, sim, um ruído produzido pela passagem do sangue pelas estruturas do coração.

O sopro pode ser patológico (secundário a um defeito cardíaco) ou não, pois existem os sopros inocentes, que são ruídos fisiológicos sem associação a defeitos no coração.

Não existe explicação precisa para o aparecimento destes sopros fisiológicos. Na vida intrauterina, o sangue oxigenado é fornecido para o feto pela sua mãe a partir da placenta. Sendo assim, os pulmões têm um papel muito pequeno na circulação fetal. Após o nascimento, eles se tornam protagonistas ao lado do coração, sendo fundamentais para a oxigenação sanguínea. Essa transição, iniciada logo depois do nascimento, termina após o terceiro mês de vida – nesse período o bebê pode apresentar sopros cardíacos fisiológicos que são secundários a todas essas mudanças hemodinâmicas, e que desaparecerão com o tempo.

Assim como os recém-nascidos e lactentes, os pré-escolares e escolares também podem ter sopros fisiológicos. Na verdade, a faixa etária dos pré-escolares é o período em que ocorre a maior parte dos diagnósticos de sopros inocentes na infância, e que desaparecem espontaneamente com o crescimento da criança. O mais comum deles é o sopro de Still, um sopro suave e musical, que aumenta de intensidade com febre e atividade física, situações nas quais ocorre uma elevação da frequência cardíaca.

Sopro patológico e fisiológico

sopro no coração

“Doutora, e quais sintomas meu filho pode apresentar?” Na verdade, crianças com sopro no coração fisiológico não têm sinais. O que existem são cardiopatias mais graves que NÃO se manifestam por sopros no período neonatal – e aí, os sintomas são mãos, língua e lábios arroxeados (cianose), mostrando que o sangue periférico circula com baixa oxigenação e requer atendimento médico.

O sopro no coração é a transformação de um som adicional, audível além dos sons normais. Pelo timbre do sopro, um ouvido treinado é capaz de determinar até mesmo o tipo de patologia da qual ele é secundário, mas o mais importante não é fazer o diagnóstico pela ausculta, mas sim, saber qual tipo de sopro necessita de uma investigação mais apurada.

O sopro patológico, citado no início do texto, é provocado por uma doença do coração e pode ser acompanhado por outras manifestações clínicas da cardiopatia em si.

Crianças com sopro fisiológico têm coração anatomicamente normal e estão liberadas para levar a vida sem restrições. Na presença de um sopro, está indicada a avaliação com um cardiologista infantil, que irá checar a necessidade de um ecocardiograma para excluir a existência de uma cardiopatia congênita – defeito presente desde o desenvolvimento do coração do bebê dentro da barriga da mãe até a oitava semana de gestação.

Ou seja, apesar de não ser sinônimo de defeito no coração, o sopro cardíaco não deve gerar alarde, mas também não deve ser ignorado. O acompanhamento com o pediatra e cardiopediatra é essencial – não acredite em tudo que lê na internet, informe-se sempre com o especialista e lembre-se de que cada caso é único. Seu filho merece uma avaliação individualizada e profissional!