Com essa tosse, o médico não vai pedir raio X?

Postado em 4 de abril de 2019 por .

Chegou o outono e, com ele, os quadros respiratórios, principais causas de superlotação de prontos-socorros nessa época do ano. Por isso, decidimos fazer uma série de textos dedicados a esclarecer algumas dúvidas frequentes sobre esse assunto. Vamos começar olhando para a presença por vezes desnecessária – e perigosa! – na emergência e para a dúvida recorrente: não precisa fazer raio X?

pediatra
Dra. Paula Brito (CRM 150.512), Endocrinologista Pediátrica e Pediatra Geral

Procurando o Pronto-Socorro (PS)

São muito comuns idas desnecessárias ao PS devido a quadros respiratórios. Angustiados com a tosse e com medo da evolução do quadro, muitos pais levam seus pequenos para ter certeza de que estão bem.

E aqui já vai uma dica: os sintomas de alarme de doenças respiratórias são basicamente sinais de desconforto respiratório (afundamento entre as costelas e na base do pescoço ao respirar), respiração acelerada, febre prolongada (por mais de 72 horas) e queda do estado geral da criança fora da febre. Nesses casos, é imprescindível que a criança seja avaliada por um pediatra – de preferência, o que já a acompanha.

Na ausência desses sinais de alarme, devemos manter apenas medicações sintomáticas, como analgésicos, antitérmicos, lavagem nasal e inalação com soro fisiológico, e observação em casa.

Mas muito bem, estamos no PS, e agora?

raio x

Primeiramente, o pediatra deve colher a história do quadro atual e antecedentes da criança, como internações prévias e presença de outras doenças, além de realizar o exame físico. Muitas vezes (na maioria delas!) isso já é suficiente! Já pode ser possível identificar se se trata de uma infecção de vias aéreas superiores, tipo um resfriado, ou algo que mereça algum medicamento mais específico, como antibiótico para uma amigdalite. Por isso, não é nenhum absurdo o pediatra realmente não precisar de um exame de raio X – e você deve ficar feliz com isso, afinal, cada raio X é uma radiação emitida para aqueles órgãos que, se for repetida excessivamente, pode sim aumentar o risco de câncer no futuro.

É preciso identificar quando, de fato, a criança necessitará fazer exames complementares, como o raio X e/ou exames laboratoriais.

Interpretando o raio X (ou radiografia do tórax)

Muitas vezes, a interpretação do raio X não é algo tão fácil. Imagens podem se confundir e, na dúvida, o pediatra do PS, que não conhece a criança, seu histórico nem a família, e não tem certeza se vai poder reavaliá-la dali a 24 a 48 horas, acaba “tratando tudo”.

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O raio X normal – numa criança sem acometimento das vias aéreas inferiores (brônquios, bronquíolos e alvéolos), podemos ver no raio X os desenhos das costelas e do coração sem dificuldade, com seus limites claros e sem borramentos. Entre as costelas, a imagem fica quase preta – é o ar presente dentro dos pulmões.

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Pneumonia – é uma infecção, por vírus ou bactérias, que acomete essas vias aéreas inferiores e, no raio X, se apresenta como uma mancha branca – onde deveríamos ver as costelas intercaladas com espaços pretos, preenchidos por ar.

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Asma ou crise de sibilância (chiado) – neste caso, os brônquios (tubos dentro do pulmão) estão estreitos, pois a musculatura que envolve cada um deles está contraída. Por isso, quando o ar passa, causa um assovio – que é o chiado! É mais fácil o ar entrar do que sair do pulmão nesse estado, então ele fica aprisionado e, no raio X, vemos uma hiperinsuflação (costelas  e diafragma mais retos, maior número de costelas) e ainda, em alguns pontos, podemos ver manchas brancas, em locais onde o espaço se estreitou tanto, que fechou – são as atelectasias.

Se a crise de chiado está muito forte, mais “branco” ficará o raio X, o que muitas vezes pode ser confundido com uma pneumonia. Uma medida simples que pode ajudar é realizar algumas inalações com Berotec ANTES de realizar o raio X. O Berotec ou Salbutamol (bombinha) dilata esses brônquios que estão estreitos, facilitando a passagem do ar e melhorando a imagem no raio X – e, consequentemente, o estado de saúde da criança.

Um exame nem sempre preciso

O objetivo aqui não é ensinar você a interpretar o raio X, mas explicar que é um exame que pode ser necessário ou não; e, dependendo da imagem obtida e do quadro, muitas vezes haverá duvida sobre o diagnóstico mesmo com o exame!

Portanto, a avaliação por um bom profissional, de preferência aquele que já conhece a criança e seu histórico, faz tanta diferença. Vale a pena também guardar o exame para uma posterior comparação, dependendo da evolução do quadro.

Espero ter ajudado a explicar um pouco sobre esses quadros e esse exame que é tão comum e que pode nos pregar peças! Não hesite em buscar ajuda, mas é essencial ter a consciência de quando é necessário correr ao pronto-socorro, de que nem sempre o raio X é necessário e que pode não esclarecer todas as dúvidas!

Para outras perguntas, estamos sempre à disposição, conte com a gente! E não perca os próximos textos do blog – continuaremos a abordar as doenças respiratórias, tão comuns no outono!