Quando falamos em transtorno de aprendizagem, muitas pessoas torcem o nariz – “isso é desculpa para não estudar” ou “a criança é acomodada” são alguns dos julgamentos que surgem.
Mas não é bem assim…
Transtorno de aprendizagem existe, sim, e exige acompanhamento! O que parece ser um relaxo da criança hoje pode se transformar em um problema que ela carregará para a vida adulta, e que afetará sua qualidade de vida, produção e relacionamentos.

Trata-se de uma incapacidade que a criança tem relacionada a alguma habilidade exigida e aprendida na escola – como a da escrita, da leitura ou mesmo do cálculo matemático. O aluno acaba por apresentar resultados abaixo do esperado para sua idade e nível escolar.
Essa incapacidade surge de um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, é uma condição realmente biológica que ocorre na criança. No entanto, não deve ser relacionada a doença cerebral, traumatismo, a problemas de visão ou audição, falta de inteligência ou mesmo descontinuidade do processo de aprendizado devido a, por exemplo, mudança de escola. O transtorno de aprendizagem não está relacionado a nada disso!
Há muita discussão sobre o surgimento da condição ainda na gestação, já que é nessa fase de desenvolvimento do cérebro que ocorrem a construção, a conexão, a aquisição e a atribuição de significados. Assim, qualquer ocorrência nessa fase poderia ser prejudicial ao bebê, ainda que seus efeitos só fossem sentidos na fase escolar. Acredita-se que o transtorno se daria por uma interligação de informações em algumas partes do cérebro. Porém, nada ainda foi comprovado nessa seara.
Como é o mundo da criança com transtorno?

Os efeitos na rotina da criança podem ser diversos, e uma criança com dificuldade em um âmbito pode se dar muito bem em outro.
Por exemplo, há crianças com dificuldade de leitura, já que elas não conseguem reconhecer as palavras – pode se desenvolver a uma dislexia. Há aquelas que não conseguem escrever e precisam, inclusive, de muito treino ortográfico.
Nas ciências exatas, há casos de pacientes que, mesmo recebendo o conteúdo para compreender os números e desenvolver seu raciocínio, não conseguem assimilar o significado deles dentro dos contextos do nosso dia a dia. Ou seja, não relacionam números a situações, preços, pesos, medidas.
O transtorno de aprendizagem pode, assim, afetar diferentes aspectos da vida da criança e privá-la de se desenvolver com vigor e qualidade de vida.
Mas ele mundo pode ser melhor, com tratamento adequado: a intervenção psicopedagógica é essencial para estimular as áreas específicas do cérebro. O trabalho pode ser associado a um atendimento com fonoaudiólogo, que ajudará a conquistar progressos mais rapidamente. Apenas para casos muito sérios indicamos o uso de medicamento.
Dificuldade não é transtorno
A linha aqui é fina, e, acredito, muito dos julgamentos que citei no início do texto sobre o transtorno de aprendizagem se devem à confusão que as pessoas fazem com a possível dificuldade de aprendizagem da criança.
Geralmente, os problemas da criança com dificuldade podem ser resolvidos na escola; é preciso entender que ela apenas tem um jeito diferente de aprender – está longe de não aprender coisa alguma. O agente provocador pode ser um aspecto cultural, emocional ou cognitivo. O paciente cria uma espécie de barreira e não assimila os conteúdos na forma ou na velocidade esperadas.
Porém, da mesma forma que o transtorno de aprendizagem, a dificuldade deve ser diagnosticada e acompanhada o quanto antes – ela também pode implicar em uma vida com menos qualidade e mais sofrimento para a criança.
Já o transtorno indica uma disfunção neurológica, que pode ser verificada com o direcionamento do neuropediatra e do neuropsicólogo. A criança apresenta conexões cerebrais diferentes das esperadas, e seu cérebro também funciona de forma diferente.
De qualquer forma, é essencial frisar que o processo de aprendizagem é complexo e amplo; envolve questões cognitivas, mas também sociais, econômicas e biológicas. Portanto, não é uma receita de bolo que funcionará de forma idêntica para todos. Diferenças vão existir e devem ser respeitadas.
O acompanhamento com um bom psicólogo infantil poderá identificar se há um transtorno ou uma dificuldade a ser tratado. O importante é garantir uma rotina e um futuro tranquilos para a criança que começa agora a descobrir o mundo!