Chamado de enurese noturna, o xixi na cama é um distúrbio que se caracteriza pela perda involuntária de urina durante o sono em crianças, a partir dos cinco anos – idade em que os mecanismos relacionados ao controle da urina já estão amadurecidos.
Estima-se que 15% das crianças enfrentem o problema do xixi na cama, em sua maioria meninos, com forte correlação com a história familiar, pela presença de um componente genético. O risco da criança desenvolver o distúrbio aumenta em 45% se um dos pais apresentou enurese na infância; se ambos apresentaram, a probabilidade aumenta pra 77%.
Vários fatores podem influenciar a perda de urina durante o sono depois dos cinco anos, sendo fundamental a avaliação com o especialista – o nefrologista pediatra, para uma adequada investigação da causa do problema, que pode variar caso a caso.
Entre as principais causas, podemos citar:
- O retardo no amadurecimento do controle neurológico da bexiga;
- A baixa produção do hormônio antidiurético durante a noite, o que faz o volume de urina ser maior que a capacidade de armazenamento da bexiga;
- Dificuldade no despertar noturno/distúrbios do sono;
- Disfunções da musculatura da bexiga (bexiga hiperativa);
- Doenças como diabetes, apneia do sono, constipação e distúrbios comportamentais, como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade e estresse;
- Uso de medicações para controle de crises convulsivas.
Na avaliação com o nefrologista pediatra, vários aspectos serão investigados, como padrão urinário da criança durante o dia, características do fluxo e do aspecto da urina, ingestão usual de líquidos, hábito intestinal, padrão do sono, bem como aspectos emocionais/sociais, buscando identificar sintomas comumente presentes, nem sempre percebidos pelos familiares.
Além da história clínica e exame físico detalhados, podem ser necessários exames específicos para avaliar a urina e o funcionamento da bexiga.
Diagnóstico realizado – e agora?
Confirmada a enurese noturna, o especialista indicará o melhor tratamento, que pode variar de acordo com a causa e necessidade de cada criança.
Antes de qualquer coisa, é fundamental que tanto a família quanto a criança entendam que molhar a cama durante a noite não é intencional ou por preguiça, mas sim um ato involuntário, fora do controle da criança. Portanto, castigar ou criar situações de constrangimento não ajudam e podem inclusive atrapalhar o tratamento, prejudicado a autoestima, o desenvolvimento social e até o desempenho escolar.
O primeiro passo para o tratamento envolve mudanças de hábitos de vida, como evitar líquidos antes de dormir (incluindo o leite), alimentação saudável sem excesso de sal e sempre incentivar esvaziar a bexiga antes de deitar.
Nesse processo de mudança de hábitos, é importante o uso de respostas positivas – fazer elogios, demonstrar apoio e reforço positivo. Um calendário de noites secas e molhadas, com o objetivo de premiar as noites livres de xixi, pode funcionar como recurso motivacional.
Outro recurso disponível é o alarme – um sensor de umidade que é colocado nas roupas íntimas da criança e conectado a um alarme sonoro, que dispara ao primeiro sinal de perda de urina. O objetivo é treinar a criança a acordar quando a bexiga estiver cheia. Com o envolvimento e apoio da família, a resolução da enurese com o alarme pode chegar a 75%.
Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicações que ajudam a reduzir a produção de urina durante a noite – mas atenção: devem ser prescritos apenas pelo médico, após uma investigação detalhada, pelos riscos potenciais associados.
Seja qual for o tratamento indicado, o importante é que a enurese noturna não seja ignorada. Se seu filho ou filha com mais de cinco anos ainda faz xixi na cama, procure um nefrologista pediatra para avaliação. Com um adequado acompanhamento, podemos dar adeus às noites molhadas, com saúde, afeto e tranquilidade.