Amoxicilina não funciona no meu filho – será mesmo?

Postado em 3 de maio de 2019 por .

Encerrando nossa série de textos que envolvem as doenças respiratórias e seus tratamentos, trazemos esta questão: será mesmo que o organismo do seu filho se acostumou com a amoxicilina?

Dra. Juliana Franco (CRM 156.488), hematologista pediátrica e pediatra geral da Clínica Pediátrica Pueritia

Infelizmente, as pessoas têm essa ideia de que os medicamentos viciam, de que o corpo se acostuma com eles, mas a verdade é que isso acontece só para alguns tipos de medicamentos – como é o caso dos remédios para dormir.

Se você parar para pensar, nosso corpo não se acostuma com o remédio da tireoide, por exemplo. As pessoas usam, às vezes, a vida inteira uma mesma dose porque precisa, e o corpo não acostuma! Por isso, mãe, pai e responsável: dizer que o corpo do pequeno vai se acostumar com algum remédio ou com a amoxicilina é um MITO!

Na verdade, com todos os antibióticos é a mesma coisa! No Brasil, as bactérias mais resistentes ainda estão concentradas nos hospitais e pacientes acamados. Nós temos essa ideia de que as bactérias estão cada vez mais resistentes porque somos influenciados pelas notícias médicas dos Estados Unidos, onde há uma cultura de uso de antibiótico muito maior do que a nossa e, por isso, eles acabam tendo bactérias mais resistentes nos ambientes que normalmente circulamos, não só restritas aos hospitais. Eles têm, por exemplo, bactérias muito mais resistentes mesmo em casa, o que não é o nosso caso aqui no Brasil.

Caso antibióticos sejam utilizados com muita frequência, sim, a gente vai selecionar bactérias mais resistentes, porque as menos resistentes morrem e sobram aquelas que o medicamento não conseguiu matar. E esse é o maior risco do uso indiscriminado dos antibióticos. Porém, isso tem um tempo limitado: vai acontecer logo depois do uso do remédio – caso não se faça mais uso de antibióticos por algum outro período, a nossa flora (que é o conjunto de bactérias “boazinhas” que moram no nosso corpo) volta ao normal e controla a proliferação dessas bactérias resistentes.

O uso da amoxicilina

A grande maioria das vezes em que as pessoas falam que a amoxicilina não funciona no filho é porque ela foi usada erroneamente para o tratamento de um quadro viral – que não se resolveria nem com os mais potentes dos antibióticos, apenas com o tempo mesmo.

Como assim, doutora?

Acontece que os antibióticos só matam bactérias! No caso dos vírus, temos poucos exemplos para os quais temos medicações que conseguem eliminá-los – contra o HIV e o vírus da hepatite, por exemplo.

Ou seja, dar antibiótico demais, principalmente quando se trata de um quadro viral, não vai funcionar.

Primeiramente, precisamos saber se se trata mesmo de um quadro bacteriano – ele pode ocorrer após uma infecção viral, como as infecções de ouvido (as otites) ou pneumonia (como já falamos aqui) – são as chamadas infecções secundárias. E são justamente estas que decorrem da proliferação de bactérias que moram nas nossas vias aéreas superiores. O medicamento de primeira escolha para estes quadros sempre foi e continua sendo a amoxicilina. Ela é um antibiótico do grupo das penicilinas capaz de matar essas bactérias das vias aéreas superiores. E, no Brasil, ainda não temos grande disseminação de resistência bacteriana a essa medicação.

Essa história de tratar direto com amoxicilina com clavulanato, sem ter uma justificativa como uso recente de antibióticos ou algum quadro mais grave que sugira outro tipo de bactérias, é altamente questionável.

É muito importante se informar constantemente com o pediatra do seu filho – e uma dica: nunca tenha vergonha de perguntar e tirar todas as suas dúvidas! As aparentes verdades podem enganar e trazer prejuízos à saúde do pequeno!