Pneumonia – e agora?

Postado em 11 de abril de 2019 por .

Pois bem, no post anterior explicamos quando levar os pequenos ao pronto-socorro e quando é indicado ou não fazer o raio X. Neste texto, chegamos à parte mais temida: meu filho foi diagnosticado com pneumonia. E agora, doutora? Isso é grave? Quais os riscos?

Dra. Juliana Franco (CRM 156.488), hematologista pediátrica e pediatra geral da Clínica Pediátrica Pueritia

Pode, vamos explicar o que é a pneumonia. Sua definição é a infecção do tecido pulmonar (o parênquima pulmonar). Ela pode ser causada por vírus, bactérias, fungos e outros microorganismos. Portanto, o tratamento deverá ser voltado para a etiologia – ou seja, para o bicho que está causando a doença.

Os tipos mais comuns de pneumonias são os causados por vírus e bactérias e, dentre as bactérias, a grande maioria dos casos é causada por uma bactérica chamada Streptococcus pneumoniae – o famoso pneumococo. Felizmente, no Brasil, a resistência dessa bactéria aos antibióticos é bem baixa, facilitando seu tratamento. Além disso, temos ainda vacinas contra vários sorotipos de pneumococo, o que ajuda na sua prevenção.

Em 40 a 60% dos casos não conseguimos identificar com certeza o agente causador da pneumonia e, por isso, o tratamento é guiado pela história clínica, sintomas, idade da criança, locais onde mora e frequenta e imagem radiológica.

E como meu filho pegou essa pneumonia, doutora?

Pois é, na grande maioria dos casos a história mais clássica começa com uma infecção das vias aéreas superiores (os famosos resfriados). Geralmente a criança começa com tosse e coriza; porém, os sintomas ficam mais arrastados (não melhoram em 4-5 dias, como é o comum) e se inicia ou retorna a febre. O sinal mais importante da pneumonia é a respiração rápida – a chamada taquipneia. Nos locais onde não se tem acesso médico e/ou a exames, o diagnóstico pode ser guiado apenas pelos sinais clínicos e o mais importante deles é a taquipneia. Ou seja, caso o seu filho esteja respirando em uma frequência adequada para idade, é muito improvável que ele tenha pneumonia.

Entretanto, antes que todos fiquem alarmados, é importante lembrar que menos de 5% dos casos de resfriado evoluem para pneumonia. E não existe essa história de “resfriado mal curado” – a pneumonia é uma complicação possível do resfriado, assim como a otite (infecção da orelha) ou amigdalite.

Em alguns casos, a bactéria causadora da pneumonia pode se instalar no pulmão da criança e iniciar sua proliferação sem ser precedida por resfriado – mas esses são os casos mais raros entre as crianças saudáveis.

Quais os sintomas?

Os sintomas mais importantes da pneumonia são taquipneia, febre, tosse, alteração na ausculta pulmonar (quando o médico ouve com o estetoscópio) e dificuldade para respirar (quando há retração das costelas ou da parte logo abaixo do pescoço). Em crianças menores, os sintomas podem ser mais vagos, como gemência, cianose (cor mais azulada da boca e extremidades como dedos das mãos), prostração e sintomas abdominais, como vômitos.

A pneumonia sem febre é bastante rara e ocorre apenas em bebês muito pequenos – entre 1 e 3 meses de vida -, e é causada por uma bactéria bem específica, frequentemente vinda da mãe. Ou seja: se seu filho não tem febre e foi diagnosticado com pneumonia no pronto-socorro, melhor falar com seu pediatra e confirmar este diagnóstico.

E o tratamento, precisa sempre de internação?

Na grande maioria dos casos, o tratamento pode ser feito em casa, com uso de antibióticos (no caso da pneumonia bacteriana). Caso a etiologia mais provável seja a viral, o uso de antibióticos não vai auxiliar e ainda pode atrapalhar. Temos em nosso corpo bactérias boazinhas, que nos protegem das infecções; usando antibióticos sem necessidade, matamos essas bactérias da nossa flora natural e selecionamos bactérias patogênicas mais resistentes (que podem causar doenças), predispondo a infecções mais graves no futuro.

Pneumonia

Em ambos os casos, é importante manter as mesmas orientações dadas para os resfriados – ingestão de muitos líquidos, lavagem nasal e inalação com soro fisiológico para fluidificar as secreções, repouso e alimentação saudável auxiliam bastante na recuperação.

Os casos de internação dependem da gravidade da pneumonia e da dificuldade que a criança está para respirar. Normalmente, os critérios de internação contam com a frequência respiratória, saturação de oxigênio, estado geral da criança, aceitação da dieta (e por consequência dos antibióticos) e capacidade dos pais de cuidar da criança em casa.

E quais os riscos?

Infelizmente, nos países subdesenvolvidos, a pneumonia ainda é uma grande causa de morte entre as crianças. Mas isso ocorre por falta de acesso aos centros de saúde. Crianças que são corretamente diagnosticadas e adequadamente tratadas tendem a ter uma rápida recuperação.

Entretanto, complicações podem ocorrer. Uma delas é chamada derrame pleural – quando há “água nos pulmões”. A membrana que recobre os pulmões pode ficar encharcada de um líquido seroso produzido pelo nosso próprio corpo durante o combate à pneumonia. Em alguns casos, precisa haver a drenagem desse líquido, com a introdução de uma cânula ou uma agulha nesta membrana. Em outros, o próprio corpo reabsorve o líquido, sem a necessidade de procedimentos mais invasivos.

Pode haver ainda formação de abscessos, com necessidade de cirurgia para remoção de parte afetada do pulmão; e sepse – que é a piora da infecção, com dificuldade de manter a pressão arterial e piora clínica importante. Mas lembre-se: essas complicações são a exceção!

Sempre que faço um diagnóstico de pneumonia vejo pais assustados, com olhos arregalados e, muitas vezes, cheios de lágrimas. Precisamos disseminar a informação de que a pneumonia pode ser sim tratada em casa e que são raros os casos de complicação. Os casos mais graves são aqueles não diagnosticados, que ocorrem frequentemente em populações com acesso médico escasso.

Precisamos também lembrar que ter um médico para chamar de seu evita tratamentos desnecessários e super-diagnósticos (como já dito antes, o médico do pronto-socorro não conhece seu filho e sua família e, na dúvida, opta por ser mais agressivo no tratamento, já que ele não sabe como será o desfecho do quadro que ele está vendo naquele momento). Portanto, na dúvida, procure o seu médico!