Baixa estatura: causas hormonais

Postado em 12 de dezembro de 2019 por .

Consideramos com baixa estatura o paciente que apresenta estatura abaixo de -2 desvios padrão da média da população (ou abaixo do percentil 3). Isso quer dizer que cerca de 97% da população daquele sexo e idade tem estatura maior.

pediatra
Dra. Paula Brito (CRM 150.512), Endocrinopediatra e Pediatra Geral da Pueritia

Primeiramente, é importante destacar que 3% da população normal se encaixam nessa definição! Se a família é baixa e a criança está apenas seguindo esse padrão, não há nada de errado.  Essa é a chamada baixa estatura familiar. Mas mesmo esses casos devem ser analisados com cuidado, para não rotularmos como baixa estatura familiar alguma condição que requer tratamento.

As causas de baixa estatura podem ser divididas, de forma resumida, em:

Causas não endócrinas: nesse grupo estão as síndromes genéticas (discutidas pelo Dr. Eduardo Perrone neste texto do blog), displasias ósseas, desnutrição e doenças crônicas (cardiológicas, respiratórias, gastrointestinais, renais, etc.);

Causas endócrinas (ou hormonais): deficiência de hormônio de crescimento, hipotireoidismo, restrição do crescimento intrauterino, síndrome de Cushing (excesso de cortisol) e alterações do metabolismo ósseo.

Aqui, gostaria de discutir um pouco sobre as principais causas endócrinas da baixa estatura.

Deficiência do hormônio de crescimento (ou deficiência de GH)

As características do paciente com deficiência de GH podem variar muito, a depender da idade de início, etiologia e grau de deficiência. Pacientes com nenhuma ou pouquíssima produção do hormônio se destacam: estão completamente fora da curva normal da família e da população, têm exames alterados e o diagnóstico costuma ser mais precoce; mas são minoria.

Aqueles com uma deficiência parcial podem ser difíceis de diagnosticar, pois muitas vezes têm crescimento limítrofe e passam anos desacelerando discretamente, o que pode atrasar o diagnóstico. Em ambos os casos o tratamento com reposição hormonal pode trazer grandes benefícios.

Quando há uma real falha na produção do hormônio de crescimento, é importante avaliar outros eixos hormonais, pois não é incomum o paciente com deficiência de GH evoluir com deficiência de outros hormônios.

Hipotireoidismo e baixa estatura?

Mais comum que a deficiência do hormônio de crescimento, o hipotireoidismo também pode ser causa de déficit de crescimento. O hormônio tireoidiano interfere em praticamente todo o corpo e, quando não é produzido de forma adequada, pode atrapalhar também a estatura. Outros sintomas da falha da tireoide são piora do desempenho escolar (pela lentificação do pensamento, dificuldade de manter atenção e maior sonolência), bócio (aumento do volume da glândula, que fica na parte da frente do pescoço), constipação e ganho de peso.

Nesses casos, o tratamento com reposição do hormônio tireoidiano já pode normalizar a velocidade de crescimento.

Restrição de crescimento intrauterino

Crianças que nasceram com peso ou estatura abaixo do esperado são chamadas de Pequenas para Idade Gestacional (ou PIG). Por algum motivo – algumas vezes evidente e, outras, não -, o feto não se desenvolve adequadamente dentro da barriga da mãe e nasce pequeno. A maioria dessas crianças recupera o canal de crescimento nos primeiros dois anos de vida.

Porém, os que não fazem esse catch up podem ter problemas no crescimento pós-natal e até terem a estatura final prejudicada. Desses que permanecem pequenos após os dois anos, uma parte pode se beneficiar do tratamento com hormônio de crescimento.

Baixa estatura: quando e como tratar

Como já falamos, o tipo do tratamento vai depender da causa da baixa estatura. O tratamento com hormônio de crescimento (GH-growth hormone ou Somatropina) se encaixa em algumas das causas, mas deve ser muito bem avaliado o custo-benefício antes dessa decisão.  O hormônio é seguro, porém, de administração subcutânea (como insulina) e diária (uma vez/dia); a duração do tratamento em geral é longa (anos) e tem um custo elevado. 

Sua eficácia vai depender da idade de início, dose e causa da baixa estatura. Na maioria dos casos, o início do tratamento é depois dos 4-5 anos, porém, se iniciado muito tardiamente, pode não alcançar o melhor resultado.

Para identificar sinais de qualquer uma dessas doenças ou qualquer desacelereção do crescimento, o acompanhamento é essencial! Então, mesmo crianças mais velhas devem manter seguimento com o pediatra pelo menos duas vezes por ano. Se notar que seu filho está mais baixo que colegas ou familiares com idade semelhante à dele, questione o pediatra e, se necessário, passe pela avaliação com um endocrinopediatra.