Colesterol alto e alteração de glicemia em crianças?

Postado em 13 de fevereiro de 2020 por .

Dra. Paula Brito, endocrinopediatra e pediatra geral da Pueritia

Já estamos em fevereiro, retomando a rotina depois das férias, e algo me chamou a atenção em vários pacientes: alteração dos exames de colesterol e glicemia, principalmente se realizados durante os meses de férias! Exagero? Leia o resto do texto para saber mais!

Mas, o que é colesterol?

Colesterol é um tipo de gordura (lipídeo) presente em nosso sangue. Muito importante para produção de hormônios, absorção de vitaminas e outros processos, mas, quando em excesso, acaba se acumulando nas paredes dos vasos, aumentando o risco de doenças cardiovasculares – como infarto e derrame.

Quando ingerimos gordura em excesso, esses níveis de colesterol aumentam, e não é preciso muito. Além da gordura, excesso de carboidratos e açúcar podem aumentar os triglicérides, que também fazem parte do perfil lipídico.

E a glicemia?

A glicemia é o nível do açúcar no sangue. Além da glicemia de jejum, a hemoglobina glicada pode ser um exame interessante, já que reflete a média da glicemia nos últimos três meses. Muitas vezes, a glicemia de jejum ainda está normal, mas vemos uma média já mais elevada ou limítrofe, que reflete picos altos e frequentes de glicemia, provavelmente pós-alimentares.

Colesterol e glicemia: existem sintomas?

Aí está uma grande armadilha: não há sintomas! Em geral, eles só vão aparecer após meses ou até anos de doença, e já em estágios mais avançados.

Estar com peso adequado também não é sinônimo de que está tudo bem – muitas das crianças que apresentam colesterol ou glicemia alterados não estão (ainda) acima do peso. A única forma de identificar essa situação é mesmo por meio de exames laboratoriais. Esses devem ser feitos em todas as crianças por volta dos 10 anos ou antes, se apresentarem fatores de risco/história familiar.

colesterol

“Ah, mas eu comia essas besteiras quando criança e não teve problema algum”- tem certeza? Talvez você, individualmente, ainda não tenha tido problemas de saúde ou nem sabe que tem (lembre-se: você pode estar assintomático). Mas, hoje, observamos um aumento exponencial na incidência de sobrepeso, obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes na população em geral. Não é coincidência, é consequência! Muitas vezes, não ligamos algo da infância com uma consequência que só descobrimos na idade adulta.

Além de alimentos cada vez mais industrializados e baratos, a geração mais jovem é mais e mais sedentária – só anda de carro, brinca dentro de casa e passa horas na frente de uma telinha, muitas vezes com um lanchinho no colo.

Qual a saída?

Calma, não quer dizer que seu filho tenha que “fazer regime”- só talvez valha repensar e mudar alguns hábitos.

Para diminuir a gordura e o açúcar na dieta, lembre-se de que seu filho não precisa de salgadinho, miojo, sorvete, coxinha, bolinho de chuva, bolacha recheada, batata frita, suco de caixinha ou refrigerante, bisnaguinha, etc. todo santo dia. Algum desses no fim de semana não é o problema. O problema é, a cada dia, um monte deles, que poderiam ser substituídos por algo tão prático e gostoso quanto. Nem é necessário apelar para alimentos caros, diet/light toda hora: é só comer comida de verdade, preparada de uma forma mais saudável.

Além da alimentação, a atividade física é imprescindível para a saúde de qualquer pessoa – inclusive daquelas que estão no peso “ideal”. No mínimo, três vezes por semana (sem contar a aula de educação física) ou adotar a regra de “não mais que dois dias seguidos sem atividade”. Além disso, incluir, no dia a dia, hábitos mais “ativos”- subir escadas ao invés de pegar elevador, ir a lugares próximos a pé ou descer do ônibus/estacionar um pouco mais longe do destino final.

Se, mesmo com essas mudanças, os exames ainda estão alterados, aí sim podemos “culpar” a genética e, às vezes, tratamentos medicamentosos são necessários. Para essas pessoas, principalmente, esses hábitos de vida deverão ser regra!

Bom, depois de tudo isso, não dá mais pra agir durante os dois meses de férias como se todo dia fosse a exceção, né? Mesmo porque, na sequência vêm Carnaval, Páscoa, férias de inverno, Dia das Crianças e, logo, férias de novo… Então, pense nisso e reveja os hábitos da sua família! Lembre-se: as crianças aprendem pelo exemplo – quem sabe você também não precisa melhorar sua alimentação e fazer mais atividade física?