No último post do blog da Clínica Pueritia, falei sobre as surpresas e descobertas de ser mãe de gêmeos: como lidar com o trabalho dobrado, a curiosidade das pessoas, o amor de irmãos desabrochando desde cedo! Para mim, uma experiência única e linda! Agora, vamos olhar para as questões mais técnicas da gestação gemelar. É importante a mamãe estar pronta para alguns cuidados extras!
Idênticos ou não?
A cada 1.000 gestações no Brasil, 29 são gemelares, sendo dois terços de não idênticos (ou dizigóticos) e um terço de idênticos (monozigóticos).
Os dizigóticos são formados pela fecundação de dois óvulos por dois espermatozoides distintos, ou seja, são duas gestações que ocorrem ao mesmo tempo. Já os monozigóticos se formam quando um único óvulo fecundado por um espermatozoide se divide; assim, os gêmeos idênticos têm a mesma carga genética.
O famoso questionamento “tem gêmeos na família?” faz sentido? Sim! Quando existem gêmeos não idênticos, a chance de acontecer de novo é cerca de dez vezes maior do que em famílias sem história de gemelaridade – e a influência da parte materna, nesses casos, parece ser maior.
Pré-natal especializado
Tanto para a mãe quanto para os bebês, a gestação gemelar tem algumas particularidades que requerem mais cuidados.
Olhando para as questões maternas, a primeira coisa de que a mulher tem que estar ciente é de que o seu corpo precisa estar preparado para suportar o peso de mais de um bebê. Então, é muito comum que esta mulher sinta mais dores e tenha mais problemas articulares ou musculares do que no caso de uma gestação simples. Como consequência, muitas mamães necessitam de repouso com maior frequência e mais cedo.
Por isso, em muitos casos, indica-se fisioterapia especializada obstétrica, para ajudar no desenvolvimento da pelve desde o início da gestação.
Além disso, a gestação gemelar está relacionada a sintomas mais exacerbados de vômitos (hiperêmese gravídica), a diabetes gestacional e a pré-eclâmpsia, devido à produção de maior quantidade de hormônios. Também, são comuns outras patologias como anemia, implantações anômalas da placenta e descolamento prematuro de placenta.
Portanto, esse tipo de gestação é considerado de risco e precisa de um acompanhamento médico especializado, bem de perto.
Considerando-se agora os bebês, os maiores riscos estão relacionados às gestações monocoriônicas, ou seja, quando dividem a mesma placenta. Há chances de desenvolverem uma condição chamada transfusão feto-fetal: um bebê acaba “roubando” sangue do outro, levando a problemas graves e até ao óbito de ambos, se não tratada precocemente e adequadamente.
Para as gestações dicoriônicas, placentas diferentes, os riscos são menores, sendo as principais complicações o baixo peso e a prematuridade, que ocorrem cerca de 24 vezes mais do que na gestação única.
Gestação gemelar leva naturalmente à cesárea? Não necessariamente – a via de parto dependerá das condições da mãe e dos bebês. Para o parto natural, o ideal é que os dois estejam de cabeça para baixo, o que ocorre em cerca de 40% dos casos. Sendo assim, a incidência de cesárea acaba sendo maior. Eventualmente, também, pode ocorrer de o primeiro nascer de parto normal, e o segundo, de cesárea.
Nasceram!
E então começam os aprendizados: agora os bebês estão aqui, dependendo de você, e tudo o que você quer é fazer o melhor para eles! Acalme-se e busque se organizar. Como já falei no outro texto, rotina é imprescindível nesse panorama.
Desde o momento em que descobrimos a gravidez, começamos a pensar e a nos preocupar com a amamentação e, logicamente, na gestação gemelar isso se agrava: muitas mães se preocupam se terão leite para dois bebês. De novo, tenha calma!
A produção do leite é regulada pelo seu consumo, ou seja, se você tem dois bebês mamando, você produzirá consequentemente mais leite. Seguem algumas dicas para você ter sucesso:
- Sobre amamentar os dois juntos ou separados, considere que os juntos é mais prático, além de colaborar para a produção dobrada do leite. Porém, é preciso verificar se eles sentem fome no mesmo momento. Caso não, é preciso respeitá-los e amamentá-los um de cada vez;
- Descanse sempre que puder, se alimente bem e beba muito líquido, pois amamentar gasta energia (e ajuda a emagrecer!);
- Para amamentá-los juntos, conte com a ajuda de outra pessoa. Sente-se confortavelmente e coloque, primeiro, o bebê que pega melhor o peito. Quando ele começar a mamar, vai incentivar a produção de leite também no outro seio, facilitando a adesão do segundo;
- Eles não vão mamar durante o mesmo tempo; respeite a duração da mamada de cada um;
- Posicione-os da forma como ficar mais confortável para você: cada um em um braço, na posição tradicional de amamentação (e as perninhas deles se tocarão); um na posição regular e outro virado para trás, com as perninhas embaixo de seus braços; ou os dois virados para trás.
O que mais posso compartilhar ou sugerir às futuras mamães de gêmeos? Bem, na prática, haverá muitas situações, dúvidas, desesperos e alegrias. Poderia escrever um livro com o que já vivenciei – e minhas pequenas têm apenas pouco mais de um ano.
De forma geral, acompanhe todas as etapas com o obstetra e, depois, com o pediatra, tenha paciência, escute o seu bom senso e não poupe seu amor: os bebês virão em dobro; seu amor, naturalmente, também!