Glicemia do seu filho aumentou? Mude os hábitos de vida da família!

Postado em 28 de maio de 2019 por .

Tenho recebido no consultório, com muita frequência, crianças com alteração no exame de rotina de glicemia – e não, necessariamente, de crianças acima do peso.

pediatra
Dra. Paula Brito (CRM 150.512), Endocrinologista Pediátrica e Pediatra Geral

Primeiro, vamos entender: a glicemia mede a quantidade de açúcar no sangue e, por isso, o exame de glicemia de jejum pode eventualmente ser pedido pelo pediatra. Se esse resultado vier alterado, para analisar melhor o metabolismo do açúcar, o médico pode ainda solicitar outros exames, que são a taxa de insulina – o hormônio que controla o açúcar no sangue – e a média da hemoglobina glicada – taxa média da glicemia nos últimos três meses.

Pois bem, clinicamente, o que tenho visto é uma pequena alteração no resultado de glicemia dos pacientes. Geralmente, a glicemia de jejum normal é de até 99, e essa criança chega com um resultado um pouco acima de 100 – 102, 105.

É desesperador? Não. É preocupante? Sim.

Repare que não estamos falando ainda em diabetes – ela ocorre pela falta ou pela atividade insatisfatória da insulina, e então o açúcar no sangue começa a subir bastante.

Da alteração de glicemia à ameaça de diabetes

O exame de glicemia veio, então, acima do desejável. Nosso próximo passo é olhar para o exame de hemoglobina glicada, que vai nos dizer a média desse resultado nos últimos três meses.

Se a glicemia de jejum ou a glicemia após a alimentação estiverem elevadas, a média pode estar acima do esperado, mostrando alteração recorrente: sinal amarelo!

Se a causa principal da elevação da média for a glicemia após alimentação, é provável que o problema esteja aí – uma alimentação com excesso de açúcar. Essa é a primeira coisa que devemos tentar adequar nesses casos e, muitas vezes, já é suficiente para normalizar os exames.

Além do alimento em si, temos que olhar para a criança que está ingerindo esse alimento: se está com peso adequado ou acima do peso, se tem história familiar de diabetes, se tem outros sintomas sugestivos de diabetes, se faz alguma atividade física regular. Esses dados nos dizem como está o metabolismo da insulina no corpo do pequeno – se está acima do peso, não faz atividade física e ainda tem alguma história familiar de diabetes tipo 2, provavelmente existe uma resistência à ação da insulina. Aí o corpo precisa produzir muito mais insulina para tentar vencer essa resistência e controlar bem o açúcar.

Porém, em médio prazo, esse pâncreas não vai conseguir produzir tanta insulina a ponto de vencer a resistência, e então o açúcar começa a se elevar no sangue. Esse processo ocorre mais em adultos, já que é preciso ter acumulado algum tempo de maus hábitos, aliados a alguma predisposição genética, para o diabetes tipo 2 se instalar. Mas, infelizmente, essa situação tem sido cada vez mais frequente entre adolescentes também.

Diabetes na infância ocorre, mais comumente, de forma mais aguda: é o diabetes tipo 1. É diferente do tipo 2, em que os maus hábitos e excesso de peso levam a uma resistência maior à ação de insulina e, com o tempo, o pâncreas não aguenta. No tipo 1, o corpo do pequeno produz anticorpos contra o pâncreas que o inflamam mais rapidamente, e ele reduz muito a produção da insulina. Então o problema não é a ação da insulina, mas sim sua ausência. Já explicamos aqui no blog sobre o tema – confira o texto do Dr. João Ferro.

Assim, em poucos dias ou semanas, a criança apresenta os sintomas: emagrecimento, aumento excessivo na frequência de urina e muita sede – isso porque o rim tenta expelir o excesso de açúcar no organismo pela urina.

O tratamento começa em casa

Mas, voltando ao início da nossa conversa, estamos olhando aquela criança que veio por alteração em algum desses exames (glicemia de jejum, insulina, hemoglobina glicada), mas ainda não tem diabetes; na maioria das vezes, não apresenta nenhum sintoma e nem está acima do peso (ou a família acha que não está).

Nada de remédios, nada de hospital: o tratamento começa em casa.

Começando pela geladeira e carrinho do mercado: crianças que veem pais comendo salgadinhos, frituras e industrializados com frequência recebem a informação de que sim, aquilo pode, e farão igual. Não tem segredo: nossos hábitos abrem espaço para os hábitos das crianças.

É preciso mudar o estilo de vida da família – evitar o consumo de açúcar e de industrializados em geral. Comer comida de verdade! Os pais, por vezes, se rendem aos lanches prontos pela praticidade, mas, em médio prazo, a conta pode chegar, e alta, para a saúde dos filhos.

Também é preciso investir nas atividades físicas, de preferência ao ar livre. Além daquela aula de educação física, encaixe na rotina do pequeno alguma outra atividade regular, pelo menos três vezes por semana. Aproveitar o fim de semana em família para se movimentar também é tudo de bom! A atividade física melhora a ação da insulina no organismo – das crianças e dos adultos! Fará bem a você, também!

Não existe mudança pela metade, e não é possível alterar hábitos das crianças se elas veem os pais fazendo o oposto do que pregam. Infelizmente, há uma epidemia de crianças com saúde fragilizada e acima do peso por causa de descuidos básicos – e de crianças cada vez mais novas! A pressa, a rotina e o excesso de atividades diárias não podem fazer mal à saúde da sua família: a saúde é que deve estar em primeiro lugar. Repense!