Pronto-socorro: preciso mesmo ir?

Postado em 20 de fevereiro de 2020 por .

Dra. Juliana Franco, há oito meses, é mãe do Gabriel. É também Hematologista Pediátrica e Pediatra Geral da Pueritia

Tenho sempre pensado sobre isso nos meus últimos plantões. Acho que depois que virei mãe, fiquei ainda mais solidária com o outro lado da mesa. Mas sempre me questiono o que faz uma família levar uma criança com uma queixa banal ou crônica ao pronto-socorro – um local onde não se sabe o que a pessoa ao lado pode carregar (em termos de doenças contagiosas) e, por isso, nosso filho pode ter entrado com uma queixa simples e crônica e sair com algo agudo e grave que se desenvolverá nos próximos dias. 

E não digo dos pais de primeira viagem, que eventualmente passam no pronto-socorro por puro desespero, sem saber o que fazer e sem conseguir falar com o pediatra. Muitos dos pais que vão com queixas banais o fazem sistematicamente. Conseguimos ver as últimas consultas e a maioria é pela mesma queixa: febre, tosse, coriza… Geralmente, a criança está bem, se alimenta normalmente (ou quase normalmente, porque ninguém doente come normalmente), brinca, corre. E os pais não entenderam que eles podem tomar a frente do tratamento.

Explico sempre para os meus pacientes do consultório que essas queixas devem ser tratadas em casa, com as medidas mais simples (como lavagem nasal e inalação com soro). E que eles têm o poder de avaliar a gravidade da doença do filho. Ninguém melhor do que você para me dizer se o seu filho não está bem. E eu respeito muito isso. Quando algum pai ou mãe diz: “Dra., ele não está bem”, eu acredito. E investigo. E procuro a causa. 

Mas ao mesmo tempo, muitos vêm e falam: “Ah, ele estava bem, mas eu vim para o pronto-socorro por desencargo de consciência”. Vejam, muitas vezes querem um atestado de que vai continuar tudo bem e isso é impossível de dar – não temos como prever o futuro! 

Tome as rédeas da saúde do seu filho!

pronto-socorro

Em outros países, você pode ser notificado ao Conselho Tutelar se levar seu filho com uma queixa banal ao pronto-socorro, pois eles entendem isso como negligência e imprudência, uma vez que, nesse momento, você pode expor seu filho a algo mais grave do que ele tem. 

Por outro lado, entendo (em partes) famílias que não têm pediatras que orientam adequadamente sobre eventuais intercorrências, com consultas que muitas vezes duram poucos minutos e você quase não tem tempo para tirar suas dúvidas. E entendo também o desespero diante das fake news que se espalham nos grupos do WhatsApp. 

Mas aí vem a crítica: se você vai em uma consulta e não consegue esclarecer suas dúvidas, não é o caso de procurar outro profissional? E se todos os profissionais do convênio agem assim, não vale a pena o esforço de pagar uma consulta particular e conseguir sanar seus questionamentos? Ser adequadamente orientado? Tomar para si as rédeas da saúde de seu filho? 

Claro que isso traz junto a responsabilidade. Mas ela já estava no contrato que “assinamos” quando decidimos ser pais. 

Reflitam sobre isso: eu estou tomando as rédeas da saúde do meu filho? Ou estou delegando a um médico só para não ter que carregar o peso da responsabilidade das minhas escolhas? 

O médico serve para guiar o caminho e orientar as melhores condutas, mas a responsabilidade das escolhas é sempre dos pais ou cuidadores.