Será que a falta de ferro causa apenas anemia?

Postado em 3 de setembro de 2020 por .

Dra. Juliana Franco, hematopediatra e pediatra geral da Pueritia

A falta de ferro determina uma queda nos níveis da hemoglobina (metaloproteína que contém ferro, presente nos glóbulos vermelhos) e, por consequência, a anemia ferropriva (por falta de ferro). Mas será que a ferropenia (nome científico para a falta de ferro) causa só anemia mesmo?

Antes de explicar, vale entendermos o que é o ferro. Trata-se de um micronutriente essencial à vida. Ele está presente na maioria das reações químicas do corpo, faz parte da molécula de hemoglobina (responsável pelo transporte de oxigênio) e é essencial para o crescimento e desenvolvimento adequado dos órgãos e músculos.

O ferro é responsável por diversas reações no nosso corpo, está bastante relacionado ao desenvolvimento do cérebro e do sistema imunológico. Portanto, a falta de ferro na infância pode causar, além da anemia, outros prejuízos importantes, como comprometer em longo prazo as aquisições cognitivas (função psicológica atuante na obtenção do conhecimento e inteligência) e reduzir a função do sistema imunológico.

Consequências da ferropenia a longo prazo

As crianças com falta de ferro podem ter mais episódios infecciosos e maior gravidade de infecções por redução da ação do sistema imunológico. Este dano pode ser revertido após tratamento correto.

Entretanto, pesquisas mostraram que crianças com déficit de ferro tem consequências irreversíveis nas aquisições cognitivas, mesmo após reposição correta. Crianças sem ferropenia foram comparadas com crianças com ferropenia, porém com tratamento adequado e viram que o desempenho escolar não era igual nos dois grupos. O rendimento se provou inferior no grupo dos pequenos que tiveram deficiência de ferro, mesmo após seu tratamento adequado. E quanto menor a criança, maior o prejuízo.

Falta de Ferro

Ou seja, elas não recuperaram todo o potencial após reposição. É um déficit irreversível que nos faz concluir que dar o ferro de forma preventiva é muito melhor do que só tratar quando há falta deste nutriente – e por isso sempre destacamos a importância do acompanhamento pediátrico dos pequenos!

A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a reposição de ferro de forma preventiva na criança desde o terceiro mês de vida até os 2 anos. Para os bebês que nascem abaixo do peso (abaixo de 2,5 kg) e prematuros, a indicação é começar logo após o nascimento e em doses maiores no primeiro ano de vida, voltando à dose usual até o segundo ano.

Há quem acredite que esta recomendação serve apenas para pessoas de baixa renda, mas isso não é verdade. E é exatamente pelos danos irreversíveis que eu acredito que a reposição preventiva é tão importante.

Muitos me perguntam se não há risco de fazer sobrecarga de ferro com essa prevenção em quem não tem falta de ferro. E a resposta é NÃO! Para termos um excesso de ferro no nosso organismo que seja capaz de fazer algum mal, precisamos dar um “caminhão” de ferro para a criança. Para terem ideia, nos pacientes que recebem transfusão de sangue regular, começamos a ver sinais de sobrecarga somente após a 10a transfusão. Ou seja, as nossas gotinhas de ferro de prevenção só fazem bem, não mal!

Acompanhamento é sinônimo de prevenção

Nas crianças, principalmente as menores de 1 ano, apenas parte da demanda de ferro é suprida pela dieta – e por isso há indicação da reposição preventiva. As crianças têm mais necessidade de ferro, visto que estão em franco crescimento.

Existem ainda pessoas com maior risco de ferropenia e por isso o acompanhamento pediátrico regular é tão importante.

Sendo assim, o tratamento é importante, mas principalmente a prevenção. Venha conversar comigo e vamos manter o acompanhamento constante – vamos dizer sim para o ferro, sempre!