Muitos pais queixam-se no consultório de que seus filhos, ao entrarem na adolescência, adquiriram um comportamento rebelde, só querem saber dos amigos, não querem mais a companhia dos pais, são imediatistas, muitas vezes imprudentes, entre outras coisas…
A Síndrome da Adolescência Normal define este comportamento quase universal dos jovens como normal mesmo, e parte da transição entre a criança e o adulto. E ela se caracteriza exatamente pelos pontos que os pais mais se queixam:
- Busca da própria identidade: é um período de descoberta de si mesmo, tanto em relação às mudanças corporais quanto às cognitivas (personalidade, gostos, etc).
- Tendência grupal: a dependência que, antes era voltada aos pais, agora volta-se a um grupo com o qual ele se identifica. Ou faz de tudo para se identificar.
- Necessidade de intelectualizar e fantasiar: é uma forma típica de pensamento do adolescente. Ele recorre a esses recursos como forma compensatória para as perdas que ocorrem dentro de si e que são incontroláveis (como a perda do corpo infantil, por exemplo). Servem como mecanismos de defesa diante de tantas mudanças.
- Crises religiosas: podem ir do completo ateísmo à mais fervorosa religiosidade ou misticismo, exemplificando bem a mutabilidade interna que eles estão vivendo.
- Deslocação temporal: as urgências são enormes e pensar no amanhã muitas vezes é impossível. É neste contexto que muitas vezes os jovens assumem condutas perigosas que podem ameaçar a sua integridade física – e os pais devem ficar atentos.
- Evolução sexual: o estímulo biológico da puberdade desencadeia a atividade sexual – inicialmente com fantasias e masturbação, progredindo para a busca de um parceiro muitas vezes ainda em caráter exploratório.
- Atitude social reivindicatória: dizem que os jovens querem mudar o mundo, e eles realmente querem. Eles são bastante idealizadores e buscam ajudar na formação de um mundo mais justo e melhor. Essas atitudes muitas vezes iniciam mudanças sociais e culturais.
- Contradições sucessivas em suas manifestações de conduta: os adolescentes são instáveis e sua personalidade é permeável, sendo assim suas atitudes acabam sendo muitas vezes contraditórias mesmo. Isso os auxilia nos processos de luto (perda da infância e separação dos pais) e caracterização de sua personalidade.
- Separação progressiva dos pais: a maturidade depende da independência real e para isso é necessária essa separação. Ela deve ocorrer idealmente de forma progressiva e não abrupta.
- Constantes flutuações de humor e ânimo: os lutos podem desencadear períodos de depressão alternados com intensa euforia das pequenas conquistas.
Além disso, o crescimento linear e aumento de peso podem também gerar modificações nos hábitos, como aumento da fome e maior necessidade de horas de sono – parece que eles comem sem fim e que sempre estão com sono!
A adolescência é um período bastante difícil para os próprios adolescentes e cabe aos pais e ao pediatra guiar este caminho para que ele seja o mais natural e leve possível. Devemos ficar sempre atentos aos comportamentos que podem levar a algum risco; porém, devemos também auxiliar no processo de autonomia e independência, deixando-os tomar suas decisões e arcar com suas consequências.