Taquicardia: a frequência acima do esperado

Postado em 23 de janeiro de 2020 por .

Dra. Ingrid Tremper, cardiologista pediátrica da Pueritia

Na semana passada, publicamos aqui no blog da Clínica Pediátrica Pueritia um texto sobre arritmia cardíaca. Explicamos que ela é classificada quanto à frequência cardíaca em síndromes bradicárdicas ou taquicárdicas – e chegou, agora, a vez de explorarmos a taquicardia.

A taquicardia ocorre quando essa frequência cardíaca (FC) está acima do máximo normal para a faixa etária.

Didaticamente, podemos dividi-las de acordo com a largura do complexo QRS, que pode ser ser estreito ou alargado:

  • Complexo QRS estreito:
  • Taquicardia sinusal
  • Taquicardia supraventricular
  • Complexo QRS largo:
  • Taquicardia ventricular
  • Taquicardia supraventricular com aberrância
(Fonte: Wikipedia – classificação com base no complexo QRS que, no eletrocardiograma – ECG – corresponde à contratação ventricular.)

Taquicardia sinusial: a mais frequente

É a mais frequente, em que o estímulo elétrico é gerado no nó sinusal; porém, a FC está acima do normal esperado para a faixa etária.

Ela pode ser uma resposta normal do organismo nos casos de exercícios físicos, febre, dor, situações estressantes, ansiedade ou medo. Pode ser decorrente de patologias como anemia, hipertireoidismo, hemorragias, desidratação ou secundária ao uso de medicamentos como os broncodilatadores para tratamento da asma (ex: Berotec®) ou outras substâncias como álcool, cafeína, nicotina e outras substâncias ilícitas. O significado clínico depende da causa subjacente e pode desaparecer espontaneamente com a resolução da causa, como a correção da hipovolemia, contenção de hemorragias e da dor.

Não apresenta nenhum significado clínico se for causada pela realização de exercícios físicos ou quando o indivíduo apresenta fortes emoções. De forma geral, a FC não ultrapassa 220 bpm nos lactentes e 180 bpm nas crianças.

Taquicardia supraventricular (TSV): pode aparecer de repente

É a taquiarritmia que mais causa comprometimento cardíaco na infância e pode aparecer abruptamente ou de forma intermitente. É o ritmo muito rápido que se origina acima dos ventrículos, por três mecanismos:

taquicardia
  • Reentrada por via acessória: ocorre um círculo reentrante, com a onda de despolarização conduzida para o ventrículo através do nó AV que, depois, volta ao átrio por uma via acessória;
  • Reentrada no nó AV: este ritmo ocorre quando ambas as vias rápida e lenta no interior do nó AV são utilizadas. A condução pela via rápida é bloqueada após uma contração atrial prematura e, desta forma, a condução é realizada através da via lenta e assim que a despolarização através desta via termina, o estímulo retorna ao átrio através da via rápida, reiniciando novamente a onda de despolarização;
  • Foco atrial ectópico: o estímulo para despolarização se inicia em um foco ectópico que é mais rápido que o estímulo pelo nó sinusal. É comum em crianças que foram submetidas a cirurgias cardíacas reparadoras.

Na TSV observamos uma FC muito alta, acima de 180 bpm em crianças e acima de 220 bpm em lactentes, e os sintomas mais comuns nos lactentes são: desconforto respiratório, irritabilidade, palidez ou cianose, vômitos e perda do apetite. Nas crianças mais velhas, os sinais e sintomas são: palpitações, dispneia, dor ou desconforto torácico, tontura, cefaleia e desmaio.

A TSV necessita de tratamento médico em unidade hospitalar de forma precoce, pois apesar da criança inicialmente estar estável seu quadro clínico pode deteriorar de forma rápida sem assistência adequada.

Taquicardia ventricular (TV): emergência médica

É um ritmo incomum na faixa etária pediátrica. Nela, a origem do estímulo elétrico ocorre no interior do ventrículo; geralmente, é secundária a cardiopatias congênitas, síndrome do QT prolongado, miocardite, distúrbios hidroeletrolíticos e intoxicações (exemplos: antidepressivos, cocaína).

Trata-se de uma emergência médica em casos mais graves, podendo se tratar de um ritmo de parada cardiorrespiratória, sendo necessário o início imediato das manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP).

Não importa o tipo – condições cardíacas em adultos e crianças devem ser devidamente acompanhadas com o cardiologista. No caso de seus filhos, converse com o pediatra e identifique quando é necessário passar com o especialista. O acompanhamento vai garantir mais qualidade de vida e saúde para o pequeno – e uma trajetória sem sustos cardiovasculares.